ANOITECER ( musicado e cantado por José Miguel Wisnik )
É a hora em que o sino toca
mas aqui não há sinos
há somente buzinas,
sirenes roucas, apitos
aflitos, pungentes, trágicos,
uivando escuro segredo;
desta hora tenho medo.
É a hora em que o pássaro volta,
mas de muito não há pássaros;
só multidões compactas
escorrendo exaustas
como espesso óleo
que impregnou o lajedo;
desta hora tenho medo.
É a hora do descanso,
mas o descanso vem tarde,
o corpo não pede sono,
depois de tanto rodar;
perde paz- morte- mergulho
no poço mais ermo e quedo;
desta hora tenho medo.
Hora de delicadeza,
gasalho, sombra, silêncio.
Haverá disso no mundo?
É antes a hora dos corvos,
bicando em mim, meu passado,
meu futuro, meu degredo;
desta hora, sim, tenho medo.
Poema de Carlos Drummond de Andrade
Poesia e Canção na tarde de Domingo
Escritora / Poetisa, Guaraciaba Perides !
ResponderExcluirEm plena realidade do cotidiano, este belo e consagrado
Poema.
Parabéns pela escolha e pela generosidade da partilha.
Uma ótima semana, amiga, com o meu fraternal abraço.
Sinval.
Que belo poema Carlos Drummond de Andrade escolheu! Eu me fixei em :
ResponderExcluir"Hora de delicadeza,
gasalho, sombra, silêncio.
Haverá disso no mundo?"
A declamação dos versos de Cecília Meireles está linda!
Rica postagem querida! Bjs.
Uma bela partilha, amiga Guaraciaba.
ResponderExcluirÉ sempre bom ler esse grande poeta!
Um ótimo final de semana.
Um abraço.
Excelente postagem, Guaraciaba.
ResponderExcluirAbraço :)