Amigos

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Aquele verde vale


Aquele verde vale
Aquela montanha azul
Aquele céu estrelado
Aquela aurora de luz
Aquele jardim florido
Aquela grama macia
Houve aquele tempo...
O alarido das crianças
correndo em volta da casa
e a preguiça macia
rangendo a corda da rede
pensamentos que percorrem
o labirinto dos dias.
Ouça aquele tempo...
O latido dos cachorros
e o cantar das cigarras
Um grito de mãe chamando
seu filho para o café.
Os meninos jogando bola,
meninas no piquenique
naquela grama macia;
sabiás passarinhando
na copa de uma mangueira.
Cheire aquele tempo...
O café recém coado,
o assado bolo de milho,
o biscoito de polvilho
trincando novo nos dentes.
Sinta aquele tempo...
Filhos, pais, avós, vizinhos e parentes,
um violão em suas plangências.
Retorne ao céu estrelado,
olhe o Cruzeiro de Sul
em sua esteira de luz .
E tranque dentro do peito
como jóia verdadeira,
tudo que ficou eterno.
Houve aquele tempo...


Guaraciaba Perides (2011)

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Barcos de papel (Guilherme de Almeida)

Quando a chuva cessava e um vento frio
franzia a tarde tímida e lavada,
Eu saía a brincar pela calçada
Nos meus tempos felizes de menino

Fazia de papel toda uma armada
e, estendendo meu braço pequenino
eu soltava os barquinhos sem destino,
ao longo das sargetas, na enxurrada...

fiquei moço.E hoje sei, pensando neles,
Que não são barcos de ouro meus ideais
Que são feitos de papel,tal como aqueles
Perfeitamente, exatamente iguais...

Que os meus barquinhos, lá se foram êles!
Foram-se embora e não voltaram mais!


Guilherme De Almeida (1890 - 1969)

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Elogio da Dialética (Bertold Brecht)

Elogio da Dialética

A injustiça avança hoje a passo firme
Os tiranos fazem planos para dez mil anos
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são
Nenhuma voz além da dos que mandam
E em todos os mercados proclama a exploração
E isto é apenas o começo.

Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos

Quem ainda está vivo não diga: nunca
O que é seguro não é seguro
As coisas não continuarão a ser como são
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados
Quem pois ousa dizer: nunca
De quem depende que a opressão prossiga? De nós
De quem depende que ela acabe? Também de nós
O que é esmagado que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenha
E nunca será: ainda hoje
Porque os vencidos de hoje são os vencedores do amanhã


Bertold Brecht (1898- 1956)

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Carnaval



No Carnaval abre-se o Portal do Tempo
de um mágico mundo paralelo.
E como em sonhos ou miragens
desfilam sultões e odaliscas no salão,
pirata e rainhas poderosas,
ciganas e baianas dão-se as mãos...
Plumas, paetês, coloridas serpentinas,
confetes, perfumes e penas de pavão,
alaridos de risos e canções,
compõe a s oníricas paisagens,
onde a idéia sobrepõe ao que se pode ser
ao que realmente se supõe...
Assim, a costureira carrega o estandarte
do brasão de um castelo medieval.
O porteiro da boate nesse dia,
pode ser um Cavaleiro que com arte
desafia as leis da Corte marcial de
um exército de mouros emplumados
que desfilam na Avenida iluminada
e que num surrealismo abstrato
vão compor, após a festa terminada,
a imensa esquadra de garis...
Figuras mitológicas criam formas,
serpenteiam poderosas na Avenida,
belas ninfas em fontes espumantes
expõe sua beleza colorida.
E assim, desfilando alegremente
vão se escoando nos Portais de Tempo
que transforma toda sua fantasia
de momentos de pura alegria,
apenas na memória desse povo,em
todos os anseios dessa pobre gente...

Guaraciaba Perides (2001)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A Fonte

Na água límpida da fonte
O alimento que dá força - à Alma
A luz da Fonte jorra
Na visão do caminhar- da Alma
O amor brota da Fonte
Em energia que dá vida- `a Alma
A Fonte onipresente
É sempre ao seu alcance- ó Alma
E o pensamento é Luz,é Água, é Vida e Amor
E sempre ao seu dispor
Basta estender as mãos, abrir o coração- e a Alma.

Guaraciaba Perides (2011)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Carnaval em Branco e Preto*

E era Carnaval e era Carnaval!
No céu a lua prateada
iluminava a fantasia.
Pandeiros, cuícas, tamborins...
Na trilha musical negro retinto
e o seu sorriso de luar...
Confetes pequeninos espalhados pelo chão
e carros na avenida enroscando serpentinas
No colo da odalisca , seda fina!
e era Carnaval e era Carnaval!
Na mulata, olhar de festa, no rosto purpurina,
sorridente numa foto em branco e preto,
em branco e preto, em branco e preto...
Quase que se ouvia a melodia:
"Quanto riso, quanta alegria"
E era Carnaval e era Carnaval!


Guaraciaba Perides (2006)


* composto tendo por base fotografias em branco e preto
de Carnavais antigos.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Espelho Meu

Olho minha face no meu espelho
Olhos nos olhos
Quem sou eu?
Já me vi por tantas formas
Já fiz careta e sorri
Já me expressei com doçura
Fiz cara de brava e ternura
Afinal, Espelho Meu,
Quem sou eu?
Já fiz ensaios e poses
Olhares de sedução
Já chorei quando menina,
esquadrinhei sentimentos,
procurei o melhor lado
o cabelo mais bonito...
Vi o tempo passar no espelho
Eu e o meu Eu, lado a lado,
em faces tão similares.
E ainda pergunto ao Espelho
sem conseguir a resposta
Afinal, quem sou Eu?


Guaraciaba Perides (2010)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Fazendo Festa...

Vamos fazer uma festa
Com tudo que se tem direito
Muitas luzes, muito brilho,
muitos risos e canções.
Almas leves como plumas
Sinceros rostos amigos
Olhos que brilham,
doces afagos,
muita ternura no ar.
desejos de bem querer
Afetos que circulam
em abraços verdadeiros
Sem pompa nem circunstância
ou etiquetas circunscritas
ao que se impõe o prescrito,
Nada disso...
Apenas roda de amigos
Apenas fala macia
Sincera e sem atavios
do Sou, eu Tenho, eu Vou...
Cantando em modas antigas
ou em sucessos de agora.
brindando como se deve,
degustando sabores da vida...
Lembrando tempos de Escola
Contando casos e rindo
Consolidando a amizade
que sempre esteve presente,
embora estando distante.
E os Anjos pacificados
trazem a luz que promove
a magia do ambiente
e circulam translúcidos e felizes...
As rosas se abrem como corações em Festa.


Guaraciaba Perides (2011)

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Vamos cantar...uma canção de Amor(letra para canção)

Vamos cantar, vamos cantar, vamos cantar
Uma canção de Amor!
Que de tão simples
Se torne bela
Que de verdade
ilumine a estrela de nossa alma
e coração.
Vamos cantar, vamos cantar, vamos cantar
uma canção de Amor!
Que por inteira
seja tão breve
que como nuvem
passe ligeira,
se torne chuva
nos seus cabelos
e molhe a rosa do meu quintal...
Vamos cantar, vamos cantar, vamos cantar
uma canção de Amor!
Que ponha um brilho
no seu olhar
e um sorriso na minha boca,
que se dissolva como
um perfume,
de som tão leve
como um suspiro...
E assim tão mansa,
seja infinita,
breves segundos
de uma canção.
Vamos cantar, vamos cantar, vamos cantar
Uma canção de Amor!


Guaraciaba Perides (2011)

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Foi há mil anos...

Foi há mil anos, talvez,
Contou-me um velho chinês:
de uma princesa tão bela
que todo o reino que tinha
pelos lados do Oriente
eram terras do sem fim...
Mas, só que a bela princesa
tinha um sonho em que sonhava,
sonhava ser uma estrela...
Mas não daquelas do céu
tão distantes e tão frias,
nem daquelas que só riscam
o céu como fogo ardente.
A estrela que pretendia,
era humana , bela e quente
que dançando ao sol nascente
mais parecia magia
de um deus que apaixonado
por ela tudo faria....
Sua voz de cristal puro
faria cantos ardentes
de enredos de vida e de amor...
Mas a pequena princesa
era do rei prisioneira,
sua alma embora uma estrela
só no céu da fantasia,
podia ver-se em segredo
no canto de seu coração.
No dia a dia da corte, tão solene e recatada,
fazia as vêzes da dama
do senhor do Sol Nascente...e
como deusa se fazia
por aclamação do povo.
Mas no fundo de sua alma
atrás da face tão fria,
brilhava a luz da artista
que dançava sob véus,
e em seus olhos só um mago
veria o que se passava,
em seu sonho de princesa,
a estrela que ali vivia,
há mil anos atrás...


Guaraciaba Perides (2008)