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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Além do jardim.( a busca)

O olho espia pelo buraco
da fechadura do Universo
Escorre uma lágrima  pelo olho mágico.
A chave que não abre,
a charada que não fecha,
duas estrelas e um só coração.
Dois caminhos e dois rumos,
dois triângulos e uma Estrela Mãe.
Dois quadrados formam um cubo mágico?
E um girassol?  girandossol...
O moto contínuo das ondas do mar
mas o brilho das estrelas
não apaga a luz da aurora
e ninguém ganha o festival no grito!
Silêncio das palavras que não falam
Um sino sem badalo
na torre sem escada.
E no caminho de uma nebulosa
o Tarô do Ermitão.
O anéis soltos no espaço
sem os dedos da mão.
A busca... "Muito além do Jardim".


Guaraciaba  Perides (2012)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Pedras das calçadas*

Pedras brancas, pedras pretas
nos mosaicos das calçadas
Os meus pés que vão pisando
só as brancas
ou só as pretas
dão os rumos ao compasso
dos meus passos.
Um desenho, só de pretas,
novas formas, só de brancas
os pés que ali vão passando
constroem novos caminhos...
mas a forma original
exige que de antemão
apoiem-se os dois pés no chão.
Saltar por pedras avulsas
sem definir o enredo
é alegria de criança,
logo passa,fica apenas,
como segredo de infãncia...
pudesse agora saltar
sobre as pedras das calçadas,
alternando, pretas, brancas,
construindo fantasias
no rumo do encantamento
que a vida ainda traria,
o futuro das lembranças
que no passado ficou.


* Quando eu era criança a caminho da escola, brincava de seguir as pedras
   da calçada pulando , ou só as pretas ou só as brancas e  aquilo me  divertia muito.


Guaraciaba Perides (2012)

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Meninas do Brasil (vista parcial da Lua)

I- Uma sombrinha de renda
Um leque de seda chinesa
Um par de luvas brancas.
Botinhas de pura pelica,
por baixo a dor do espartilho
e anáguas engomadas.
O cabelo em tranças,
um lenço de linho bordado,
um corpete bem justinho,[
a saia de mil babados
e está pronta a sinhá.
Vai a mocinha bonita
andar no passeio público
em busca do bem amado...
E na linguagem do leque
e na linguagem das flores
a moça se comunica
com os olhares compridos
e sorrisos escondidos
subterfúgios antigos
de um tempo que já se foi.
.........................................
II-A menina de biquini
toda enxuta e louçã
com seu chapéu de palha
passa pelo  poeta que
 cheio de sentimentos
e amores ainda ocultos
canta-lhe em alguns versos
tudo aquilo que ele vê:
"Olha que coisa mais linda,
Mais cheia de graça.
é ela menina que vem e que passa
num doce balanço a caminho do mar"*
........................................................
III- No metrô superlotado
vai a menina ancorada,
justaposta a outros corpos,
olhar vazio no espaço.
Cabelos recém lavados,
calça de jeans apertada,
equilibrada nos saltos,
mais bolsa e badulaques,
fones de ouvido ligados
a um celular da moda.
Vai a menina ouvindo
alguém que canta pra ela
mais uma canção de amor...
........................................
IV- Vai a menina no tranco
carregando o fardo que lhe coube
na cabeça ou nos ombros,
no esforço de cada dia,
nas mãos lanhadas e secas,
nas unhas que já lascadas e
no sábado, quem sabe,
vai conseguir consertar...
Vai de avental ou bermuda
pernas de fora e chinelos,
cabelo tingido ao meio.
as vêzes um lenço cobrindo
o pó d a oficina ou da terra
que lhe endurece a pele
e um travo de fel na boca...
........................................
V-A menina escura e forte,
balança o corpo inteiro,
na lida do dia a dia,
lavando roupa no rio,
bate na pedra com força,
enxágua e tira o sabão:
torce com toda firmeza
a roupa de seus senhores.
Mais tarde, com ferro  a carvão,
muita goma e muito esforço
vai fazer brilhar a roupa
da mesa e da cama adornada...
mais os  vestidos de seda,
mais anáguas engomadas..
No fim do dia, ela sonha,
afinal, o que sonha a menina
escura e forte,
no seu catre de enxovia?
..........................................
VI- A moça no shopping-center
entre luzes e mármores
passa alerta pelas vitrines
às  novidades da moda.
Há lojas em  que ela entra,
faz descer lindos sapatos
ou vestidos transados
por modistas afamados...
As mocinhas atendentes
de modos bem educados,
de cabelos cacheados
e roupas bem comportadas,
fazem  as vêzes com gosto,
um sorriso congelado
como se tudo não passasse
de uma agradável novela....
.........................................
VII- Chega  a noite e o fim do dia
Uma lua branca no céu....
Na cidade ou no campo,
em tempo de hoje ou de outrora.
Tudo de maneira igual,
há meninas que saem às ruas,
outras que vão para o descanso,
outras que vêm novelas,
outras que choram escondidas.
Algumas que lutam e se esforçam,
fazem trabalhos de escola...
Em todos os lugares
somente nos dias de hoje,
os cellulares apitam
com singulares sons diversos.
São amigas que cochicham,
são namorados que juram
que em tudo se pode dar jeito
e que a vida é um sonho,
nem sempre o mais perfeito,
mas todos   têm o direito
de viver e de sonhar.

* citação de "Garota de Ipanema" de Vinicius de Moraes.

Guaraciaba Perides  (2011)

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Bonequinhos de papel*

Em uma folha dobrada e redobrada
Com cuidado e esmero recortada
Vão se formando bonequinhos de papel
Unidos em série ao desdobrar a folha
de mãos unidas pra fazer ciranda.,
os bonequinhos vão criando vida
para a criança se sentir feliz...
Podem dançar em saltos,
podem correr em fitas,
podem brincar de ser
apenas uma criança
como todas outras
e não aquelas de papel.
E no instante de ser um bonequinho,
multiplicado em dez, multiplicado em mil,
pode fazer de um sonho
recortado em arte,
criar magia do mistério,
sentido do ser e do não ser...
Ao mesmo tempo vida,
ao mesmo tempo  sonho,
em  mãos artistas que criaram
singelas pessoínhas recortadas,
mágica aos olhos da criança
e não apenas recortes de
uma simples folha de papel

* brinquedo que minha mãe criava para mim e que me encantava.

Guaraciaba Perides (2012)

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Pablo Neruda e Omar Kháyyám ( poetas falando de amor e de saudade)

Pablo Neruda

Poema VI

Te recuerdo como eras en el último  otoño.
Eras la boina gris y el corazón en calma.
En tus ojos peleaban las llamas del crepúsculo
Y las hojas caían en el agua de tu alma.

Apegada a mis brazos como una enredadera,
las  hojas recogían tu voz lenta  y en calma.
Hoguera de estupor en que mi sed ardía.
Dulce jacinto azul torcido sobre mi alma.

Siento viajar tus ojos y es  en distante el otoño:
boina gris, voz de pájaro y corazón de casa
hacia donde emigraban ]mis profundos anhelos
y caían mis besos  alegres como brasas.

Cielo desde un  navío.Campo desde los cerros:
tu recuerdo es luz, de humo, de lago en calma!
Más allá de tus ojos ardían los crepúsculos.
Hojas secas de otoño giraban en tu alma.


Omar  Kháyyám

Recebi o golpe que  esperava
Abandonou-me a bem amada.
Quando eu a possuía,
era-me tão fácil desprezar o
amor e exaltar todas as renúncias!...

Junto de tua amada,
Kháyyám, como estavas só!
Sabes?
Ela se foi para que tu
possas refugiar-te  nela...


Guaraciaba Perides