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terça-feira, 21 de junho de 2022
MARÍLIA DE DIRCEU ( DE TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA)
Obra de Thomás Antônio Gonzaga , escrita pelo Ouvidor Mor de Vila Rica, que transpõe em poemas a sua paixão pela jovem Maria Dorothea Joaquina de Seixas .
Quando se conheceram ele tinha 38 anos e ela tinha 16.A paixão fulminante que o acometeu foi transformada em versos que se transformaram em uma das mais belas e requintadas obras da nossa literatura. . A época histórica nos leva aos anos da Inconfidência Mineira (final do século XVIII ) Na obra Marília de Dirceu ele se auto nomeia Dirceu e ela se transforma em Marília , a sua Musa Amada.
Aqui separei os versos da Lira I da primeira parte que compõe a obra e os apresento apenas para recomendar a leitura do obra como um todo e para que se interessem pela triste e bela história de amor e pelos versos que a imortalizaram
LIRA I
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro
Que viva de marcar alheio gado,
De tosco trato, de expressões grosseiro,
Dos frios gelos e de sóís queimado.
Tenho próprio casal e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela
Graça á minha Estrela!
Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos ainda não está cortado;
Os Pastores, que habitam este monte,
Respeitam o poder do meu cajado.
Com tal destreza toco a sanfoninha
Que inveja até me tem o próprio Alceste
Ao som dela concerto a voz celeste
Nem canto letra que não seja minha.
Graças, Marília bela.
Graças à minha Estrela!
Mas tendo tantos dotes da ventura,
Só apreço lhes dou, gentil Pastora,
Depois que o teu afeto me segura
Que queres do que tenho ser Senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
De um rebanho, que cubra monte e prado;
Porém, gentil pastora, o teu agrado
Vale mais que um rebanho, e mais que um trono.
Graças, Marília bela!
Graças à minha Estrela!
Os teus olhos espalham a luz divina,
A quem a luz do sol em vão se atreve;
Papoila ou rosa delicada e fina
Te cobre as faces, que são cor da neve.
os teus cabelos são uns fios d'ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória da amor igual Tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Leve-me a sementeira muito embora
o rio, sobre os campos levantados;
Acabe, acabe a peste matadora,
Sem deixar uma rês , o nédio gado.
Já destes bens, Marilia, não preciso
Nem me cega a paixão, que o mundo arrasta;
Para viver feliz, Marília, basta
Que os olhos movas, e me dês um riso.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Irás a divertir-te na floresta,
Sustentada, Marília, no meu braço;
Aqui descansarei a quente sesta,
Dormindo um leve sono em seu regaço;
Enquanto a luta jogam os Pastores,
E emparelhados correm nas campinas,
Toucarei teus cabelos de boninas,
Nos troncos gravarei os teus louvores.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Depois de nos ferir a mão da Morte,
ou seja neste monte, ou noutra serra,
Nossos corpos terão, terão a sorte
De consumir os dous a mesa terra.
Na campa, rodeada de ciprestes ,
Lerão estas palavras os Pastores:
"Quem quiser ser feliz nos seus amores,
Siga os exemplos que nos deram estes"
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Nota: " Coleção dos Autores Célebres da Literatura Brasileira"
Obras de Tomás Antônio Gonzaga:" Marília de Dirceu"
Livraria Garnier
Rua Benjamin Constant 118- Rio de Janeiro
afresco encontrado nas Ruínas de Pompéia
O amor além do tempo!