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segunda-feira, 27 de junho de 2022

NÃO SEI

Não  sei  se  foi  um  sonho
ou  só  miragem
não  sei  se se  foi  amor
ou  só paisagem
Não  sei se  foi  o  cheiro  de  hortelã
ou  o  vinho  quente
Só  sei  que  foi  bom...
daqueles  bons  que  duram  para  sempre.
Não  sei  se  foi  um  sonho
ou  só  miragem...

Só  sei  da  primavera  e  seus  perfumes
Só  sei  da  vida  aquilo  que  me  basta
Não  sei  se foi  amor  ou  só  paisagem...
Não  sei se  foi  saudade  de  outras  eras
não  sei  se foram  as  canções  
que  me  inspiraram
Só  sei  que  fui  feliz  nestas  lembranças!
Não  sei  se  foi  amor  ou  só  miragem...


Guaraciaba  Lopes  Perides




um  quadro  de Marc  Chagall


terça-feira, 21 de junho de 2022

MARÍLIA DE DIRCEU ( DE TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA)

Obra  de  Thomás  Antônio  Gonzaga , escrita  pelo  Ouvidor  Mor  de  Vila  Rica,   que  transpõe  em  poemas  a  sua  paixão  pela   jovem   Maria  Dorothea   Joaquina  de  Seixas .

Quando  se  conheceram  ele  tinha  38  anos  e  ela  tinha  16.A  paixão  fulminante  que  o  acometeu foi  transformada  em  versos  que  se  transformaram   em  uma   das  mais  belas  e  requintadas  obras  da  nossa  literatura. . A  época  histórica  nos  leva  aos  anos  da  Inconfidência  Mineira  (final  do  século  XVIII )  Na  obra   Marília  de  Dirceu  ele  se  auto nomeia  Dirceu  e ela  se  transforma  em  Marília ,  a  sua  Musa  Amada.

Aqui   separei    os  versos  da  Lira  I  da  primeira  parte  que  compõe  a  obra  e os  apresento  apenas  para  recomendar  a  leitura   do  obra  como  um  todo  e  para  que   se  interessem  pela triste  e  bela  história  de  amor  e  pelos  versos  que  a  imortalizaram

LIRA   I

Eu,  Marília,  não  sou  algum  vaqueiro

Que  viva  de  marcar  alheio  gado,

De  tosco  trato,  de  expressões  grosseiro,

Dos  frios  gelos  e  de  sóís  queimado.

Tenho  próprio  casal  e  nele  assisto;

Dá-me   vinho, legume,  fruta, azeite;

Das  brancas  ovelhinhas  tiro  o  leite,

E  mais  as  finas  lãs,  de  que  me  visto.

Graças,  Marília  bela

Graça  á  minha    Estrela!

Eu  vi    o  meu  semblante  numa  fonte,

Dos  anos  ainda  não  está  cortado;

Os  Pastores,  que  habitam  este  monte,

Respeitam  o poder  do  meu  cajado.

Com  tal  destreza  toco  a  sanfoninha

Que  inveja  até  me  tem  o  próprio  Alceste

Ao  som  dela  concerto  a  voz  celeste

Nem  canto  letra  que  não  seja  minha.

Graças,  Marília    bela.

Graças    à  minha  Estrela!


Mas  tendo  tantos  dotes  da  ventura,

Só  apreço  lhes  dou,  gentil  Pastora,

Depois  que  o  teu  afeto  me  segura

Que  queres  do  que  tenho  ser  Senhora.

É  bom,  minha  Marília, é  bom  ser  dono

De  um  rebanho,  que  cubra  monte  e  prado;

Porém,  gentil  pastora,  o  teu  agrado

Vale  mais  que  um  rebanho, e  mais  que  um  trono.

Graças,  Marília  bela!

Graças  à  minha  Estrela!


Os  teus olhos  espalham  a  luz  divina,

A  quem  a  luz do  sol  em  vão  se  atreve;

Papoila  ou  rosa  delicada  e  fina

Te  cobre  as  faces,  que  são  cor  da  neve.

os  teus  cabelos  são  uns  fios  d'ouro;

Teu  lindo corpo  bálsamos  vapora.

Ah!  não  fez  o  Céu,  gentil  Pastora,

Para  glória  da  amor  igual  Tesouro.

Graças, Marília bela,

Graças  à  minha  Estrela!


Leve-me  a  sementeira  muito  embora

o  rio,  sobre os  campos  levantados;

Acabe, acabe  a  peste  matadora,

Sem  deixar  uma  rês ,  o  nédio  gado.

Já  destes  bens,  Marilia,  não  preciso

Nem  me  cega  a  paixão,  que  o  mundo  arrasta;

Para  viver  feliz,  Marília,  basta

Que  os  olhos  movas,  e  me  dês um  riso.

Graças,  Marília  bela,

Graças  à  minha  Estrela!


Irás  a  divertir-te  na  floresta,

Sustentada, Marília,  no  meu  braço;

Aqui  descansarei  a  quente  sesta,

Dormindo  um  leve  sono  em  seu  regaço;

Enquanto  a  luta  jogam  os   Pastores,

E  emparelhados  correm  nas  campinas,

Toucarei  teus  cabelos  de  boninas,

Nos  troncos  gravarei  os  teus  louvores.

Graças,  Marília bela,

Graças  à  minha  Estrela!


Depois  de  nos  ferir  a  mão  da   Morte,

ou  seja  neste  monte,  ou  noutra serra,

Nossos corpos  terão,  terão  a  sorte

De  consumir  os  dous  a mesa  terra.

Na  campa,  rodeada  de   ciprestes ,

Lerão  estas  palavras  os  Pastores:

"Quem  quiser  ser  feliz  nos  seus  amores,

Siga  os  exemplos   que  nos  deram  estes"


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Nota:  " Coleção  dos  Autores  Célebres  da  Literatura  Brasileira"

Obras  de  Tomás  Antônio  Gonzaga:"  Marília  de  Dirceu"

Livraria  Garnier

Rua  Benjamin  Constant  118- Rio  de  Janeiro




afresco  encontrado  nas  Ruínas  de    Pompéia


O  amor  além  do  tempo!







 

domingo, 12 de junho de 2022

Destino | Poema de Cecília Meireles com narração de Mundo Dos Poemas- Anoitecer letra de Carlos Drummond de Andrade e musicado por Miguel Wisnik

DESTINO   Poema  de  Cecília  Meireles)





ANOITECER  (  musicado  e  cantado  por  José  Miguel  Wisnik )




É    a  hora  em  que  o  sino  toca
mas  aqui  não  há  sinos
há  somente  buzinas,
sirenes  roucas,  apitos
aflitos,  pungentes, trágicos,
uivando  escuro  segredo;
desta  hora  tenho  medo.

É  a  hora  em  que  o  pássaro  volta,
mas  de  muito  não  há  pássaros;
só  multidões  compactas
escorrendo  exaustas
como  espesso  óleo
que  impregnou  o  lajedo;
desta  hora  tenho  medo.

É  a  hora  do  descanso,
mas  o  descanso  vem  tarde,
o  corpo  não pede  sono,
depois  de  tanto  rodar;
perde  paz- morte- mergulho
no  poço  mais  ermo  e  quedo;
desta  hora   tenho  medo.

Hora  de  delicadeza,
gasalho,  sombra,  silêncio.
Haverá  disso  no  mundo?
É  antes  a  hora  dos  corvos,
bicando  em  mim,  meu  passado,
meu  futuro, meu  degredo;
desta  hora,  sim,  tenho  medo.

Poema  de  Carlos  Drummond  de  Andrade



Poesia   e  Canção  na  tarde  de  Domingo