Caminhando pela praia uma mulher
Pés descalços, braços nus
Seus passos leves como a pluma
que a brisa faz bailar no entardecer.
E ela vai seguindo seu caminho...
Pulseiras de prata em seus pulsos
tilintam alegres como a voz do sino.
A mulher medita sobre o tempo e
admira o sol que já se põe.
No céu, nuvens douradas fazem fundo
aos pássaros marinhos que revoam
em busca dos seus ninhos.
As ondas melancólicas no seu vai-e-vem
pontuam o entardecer.
A mulher vê o poente e sorri.
Um amor maior sente no peito e com
os cabelos ao vento, aguarda ansiosa,
o barco que aproxima...
A noite se faz breve e o pescador
de alma leve, abraça-lhe a cintura.
E assim calados, seguem de volta
traçando novos passos, agora duplos,
calcados pela areia fria.
A Estrela Vésper já prenuncia o brilho
na noite que promete calmaria.
Logo chegam á casa, o lampião acendem
e a mulher vai preparar o peixe para
um novo dia...
A noite não é longa para o amor pacificado,
mas por agora basta...
E o pescador de alma leve e sua mulher
de ombros nus e cabelos ao vento,
aninhados pela calma, repousam abraçados
Pela janela aberta , a luz da lua.
Guaraciaba Perides
Todo este céu, música de Fausto Bordalo ...canta Né Ladeira
Uma tela de José Pancetti (1902- 1958)
A maré mansa nos olhos de Maria
e o coração do pescador de alma leve
tragam um momento de esperança
ao mundo conturbado pela ira ,
para demonstrar que basta só amor
para encontrar a Paz.
Tinha somente palácios para seus habitantes? Mesmo
na lendária Atlântida
Os que se afogavam gritaram por seus escravos
Na noite em que o mar a tragou.
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho ?
César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro ?
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada
Naufragou. Ninguém mais chorou ?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele ?
Cada página uma vitória.
Quem cozinhava o banquete ?
A cada dez anos um grande homem.
Quem pagava a conta ?
Tantas histórias.
Tantas questões.
(Bertold Brecht ( 1898- 1956)
PORQUE CANTAMOS DO POETA MARIO BENEDETTI = CANTA NACHA GUEVARA
"Em vez de serem apenas livres,
esforcem-se para criar
um estado de coisas que liberte a todos
e também o amor à liberdade
torne supérfluo!
Em vez de serem apenas razoáveis,
esforcem-se para criar um estado de coisas
que torne a desrazão de um indivíduo
Um mau negócio."
No ponto mais alto da cidade,
em uma alta colina ficava a estátua do Príncipe Feliz.
Ela era toda coberta de finas
folhas de ouro, os olhos eram duas
brilhantes safiras e um grande rubi brilhava em sua espada.
A estátua era muito admirada
por todos. "Ele é tão belo como um catavento" citava um dos
Conselheiros da Cidade que gostava de se notabilizar por
seus dotes artísticos. "Somente não
tem utilidade" ele acrescentava, escandalizando os incrédulos, afirmando
ser pouco prático o que de fato não era.
'Por que você não pode ser
como o Príncipe Feliz?' perguntou uma mãe ao seu filho que
chorava olhando a lua. 'O Príncipe Feliz nunca chora por nada'.
'Eu fico satisfeito que exista
alguém no mundo que é feliz' murmurou um
homem desanimado enquanto olhava para a maravilhosa estátua.
'Ele parece um Anjo' disseram as
crianças carentes que estavam saindo da Catedral ,com suas
capinhas vermelhas e seus aventais brancos.
'Como vocês sabem? disse o Professor
de Matemática ,'vocês nunca viram um'
Ah!, mas nós os vemos em nossos sonhos!' responderam as crianças. E o Professor olhou-os
severamente pois não aprovava crianças sonhadoras.
Uma noite sobrevoou a cidade uma
pequena Andorinha. Suas companheiras tinham ido para
o Egito há seis semanas, mas ela ficara para trás pois estava
apaixonada pelo mais bonito junco. Ela o tinha conhecido na primavera quando
voara ao longo do rio seguindo uma grande
mariposa amarela e tinha sido
atraída por sua figura esguia e parou para falar com ele.
'Eu posso amar você? ' perguntou a Andorinha aproximando-se de
repente e o Junco lhe fez
uma curvatura. Então, ela voou e voou em volta dele, tocando a água com
suas asas e fazendo
nela ondulações prateadas. Esta era a sua forma de cortejar e isto
estendeu-se por todo o verão.
'É um apego ridículo'
gorjeavam as outras andorinhas. 'Ele não tem dinheiro, nenhum relacionamento e certamente
o rio estava repleto de juncos'.
Então, quando chegou o outono elas todas se foram. Depois que elas se
foram a Andorinha
sentiu-se solitária e começou a aborrecer-se com seu amado. 'Ele não
conversa' dizia ela e estou temerosa que
ele seja fútil, pois está sempre flertando com a brisa'.' E certamente
quando sopra a brisa, o Junco faz as
mais graciosas curvaturas.
'Eu admito que ele é muito passivo, mas eu amo viajar e meu companheiro
também deveria gostar de ser viajante'
'Você viria comigo?' ela finalmente disse a ele, mas o Junco abanou a
cabeça pois estava arraigado ao seu lar.
'Você não me dá a devida atenção' ela exclamou.
'Eu vou para as pirâmides' - 'Adeus' e voou.
Ao longo de todo o dia ela voou
e quando anoiteceu ela chegou na cidade.
'Onde poderia pousar?' ela
disse.
Então ela viu a estátua na alta coluna. 'Eu pousarei lá' exclama. 'É um
ótimo lugar com bastante ar fresco'. Então ela aninhou-se aos pés do Príncipe
Feliz.
'Eu tenho uma cama dourada', murmurou para si mesma enquanto olhava
em volta e
preparava-se para dormir.
Mas enquanto estava colocando a cabeça sob suas asas, uma grossa gota de água caiu sobre
ela. 'Que coisa curiosa'
exclamou 'Não há uma única nuvem no céu, as estrelas estão brilhando e no
entanto está chovendo. O clima do norte da Europa é realmente horrível. O
Junco costumava gostar da chuva mas ele era simplesmente egoísta'
Então caiu outra gota. 'Qual é a utilidade de uma estátua se ela não
abriga da chuva?' ela
disse e estava determinada a levantar voo.
Mas antes que abrisse suas
asas uma terceira gota caiu e ela olhou para cima e viu
- Ah! o que ela vê?
Os olhos do Príncipe estavam cheio de lágrimas e as lágrimas estavam
escorrendo por
suas faces douradas. Seu rosto
estava tão belo à luz da lua que a pequena Andorinha ficou
com muita pena.
-Quem é você ? disse ela
-Eu sou o Príncipe Feliz.
-Então por que está chorando? perguntou a Andorinha, 'Você me deixou
encharcada'
'Quando era vivo eu tinha um coração humano' respondeu a estátua. ' Eu
não sabia como
eram as lágrimas pois eu vivia no "Palácio de Sans Souci"
onde as mágoas não tinham permissão para entrar. De dia eu jogava com meus
companheiros no jardim e a noite eu liderava o baile no Grande Salão. Em volta do jardim existia um paredão mas nunca me ocorreu perguntar o
que havia atrás dele pois as coisas em
volta eram tão bonitas. Meus cortesãos chamavam-me de Príncipe Feliz e feliz realmente eu era, se
prazeres são felicidade.
Assim eu vivi e então eu morri.
E agora que eu estou morto eles me
puseram aqui tão no alto que eu posso ver toda a feiura e toda a miséria de minha cidade
e apesar de meu coração ser de chumbo não posso decidir nada a não ser chorar'
'mas ele não era de ouro sólido?' disse a Andorinha para si mesma. Ela
era muito educada para
fazer pergunta pessoal em voz alta.
'Longe , muito longe' continuou a estátua com voz baixa e melodiosa
'há numa pequena rua uma casa muito pobre. Uma das janelas está aberta, e através dela eu
posso ver uma mulher sentada à mesa. Seu rosto é magro e abatido e ela tem mãos vermelhas e
ásperas, todas machucadas pelos
alfinetes, pois ela é uma costureira. Ela está bordando flores da paixão em um vestido de cetim para a mais encantadora dama de honra da rainha vestir no próximo baile da Corte. Na cama , no canto da sala, está deitado o seu pequenino filho. Com febre e está
pedindo laranjas. Sua mãe não tem nada para dar a ele senão somente a água do
rio e por isso eu estou chorando'
'Andorinha, Andorinha, pequena Andorinha, você levaria para ela o rubi
do punho da minha espada? Meus pés estão
presos neste pedestal e eu não posso me mover'
'Eu pretendia ir para o Egito' disse a andorinha. Meus amigos estão
voando para cima e para baixo do Nilo e conversando com a grande Flor de Lotus.
Breve elas vão dormir na tumba do Grande Rei. O Rei está lá, ele próprio, em seu pintado ataúde. Ele está
envolto em linho amarelo e embalsamado com especiarias. Em torno de seu pescoço
uma corrente de jade e suas mãos são como folhas secas.'
'Andorinha, Andorinha , pequena Andorinha!' disse o Príncipe; 'Você não
poderia ficar comigo
só por uma noite e ser meu mensageiro? O menino está com muita sede e a
mãe está tão infeliz''
'Penso que não gosto muito de meninos' respondeu a Andorinha. 'No
último verão, quando eu
estava no rio, havia lá dois rudes meninos, filhos do moleiro, que
sempre atiravam pedras em mim, Eles nunca me feriram, naturalmente, pois nós
andorinhas voamos tão bem e nós somos de uma família famosa por sua
agilidade, mas de qualquer modo foi uma forma de desrespeito'
Mas o Príncipe Feliz olhou tão triste para a pequena Andorinha que ela
ficou com pena.'Está muito frio aqui' ela disse.' Mas ficarei com você por uma
noite e serei seu mensageiro.'
'obrigado, pequena Andorinha' disse o Príncipe.
Então a Andorinha retirou o grande rubi da espada e voou com ele em seu
bico sobre os telhados da cidade.Ela passou pela torre da Catedral, onde seus
brancos anjos de mármore foram esculpidos.Ela passou pelo
palácio e escutou o som de dança. Uma linda menina veio para o balcão com seu namorado.
'Como as estrelas estão maravilhosas!' ele disse para ela 'e como é maravilhoso o poder do amor'
'Eu espero que meu vestido esteja
pronto a tempo para o baile real' ela respondeu
'eu mandei bordar flores da
paixão nele, mas a costureira é tão preguiçosa!'
A andorinha passou pelo rio e viu
lanternas penduradas nos mastros dos navios. Ela passou sobre
o gueto e viu judeus negociando e
pesando dinheiro em balanças de cobre.
Por fim, viu a pobre casa e
olhou para dentro dela. O garoto estava tremendo de febre em sua cama e a sua mãe havia
adormecido de cansaço. A andorinha com um salto colocou o rubi sobre a mesa ao lado do
dedal da mulher.Então voou gentilmente ao lado da cama abanando com suas asas sobre a
cabeça do menino.
'Como eu me sinto bem' disse o
menino. 'Eu devo estar melhor' e pensou estar dentro de um
delicioso sonho.
Então a andorinha voltou para o
Príncipe Feliz e contou a ele o que tinha feito.
'É curioso' ela observou 'mas eu
sinto um calor agradável agora, embora esteja tão frio!'
'Isto porque você fez uma boa
ação!' disse o Príncipe e a andorinha começo a pensar e então caiu no sono. Pensamentos sempre
a faziam dormir
Quando amanheceu ela voou para o
rio e tomou um banho.
'Que notável fenômeno!- disse um
ornitólogo que estava passando pela ponte...'uma andorinha no inverno!' e então
ele escreveu uma longa matéria sobre isto para o jornal local.
Todo mundo leu mas estava tão
cheio de palavras que ninguém
compreendeu.
'Esta noite eu vou para o Egito!' disse a Andorinha
decidida. Ela visitou todos os monumentos públicos novamente e ficou um
longo tempo sobre o campanário de Igreja. Em todo lugar que ela foi as andorinhas chilreavam
e diziam entre si 'Que coisa
estranha'
Quando a lua se levantou
ela voltou para o Príncipe Feliz.
'Tem algum recado para o Egito?'
ela exclamou 'Eu estou de partida'
'Andorinha, Andorinha, pequena
Andorinha!' disse o Príncipe.' você não
pode permanecer comigo mais uma noite?'
'Eu estou indo para o Egito'
respondeu a andorinha. 'Amanhã minhas amigas voarão para a Segunda Catarata. Os
hipopótamos se reclinam lá entre os juncos e num enorme trono de granito senta-se o deus Memnon. Ao
longo de toda a noite ele observa as estrelas, e quando brilha a Estrela da Manhã, ele
solta um grito de alegria e depois fica silencioso.
Em seguida os leões amarelos
descem à beira d'água para beber.Eles
tem olhos que parece
verdes berilos e seus roncos são
tão fortes quanto o ronco da catarata.'
'Andorinha, Andorinha, pequena
Andorinha!' disse o príncipe,'bem longe, atravessando a cidade, eu vejo um
rapaz num sótão. Ele está inclinado sobre uma escrivaninha coberta de papéis e ao seu lado há um feixe
de violetas murchas.Seu cabelo é
castanho e crespo e seus lábios são vermelhos como uma
romã e ele tem grandes e sonhadores
olhos.Ele está tentando acabar de escrever uma peça ao
Diretor de Teatro, mas ele está tão gelado para escrever algo mais. Não há fogo na grelha e a
fome o deixa fraco'
'Eu ficarei com você mais uma
noite' disse a Andorinha que realmente tinha bom coração;
'levarei a ele outro rubi?
'Ai de mim! eu não tenho nenhum
rubi agora!' disse o Príncipe. ' Meus olhos são tudo que eu tenho.Eles são feitos de raras
safiras, que foram compradas na Índia há
mil anos atrás; pegue uma delas e leve-a para ele.Ele
venderá para o joalheiro e comprará alimentos e lenha para queimar e acabará a
sua peça'
'Querido Príncipe!' disse a andorinha.'Eu não posso fazer isto' e começou
a chorar.
'Andorinha, Andorinha, pequena
Andorinha' disse o Príncipe.'Faça o que estou mandando'
Então a andorinha arrancou o olho
do príncipe e voou para o sótão do estudante.Foi simples encontrá-lo pois havia um buraco
no teto. Através dele, ela lançou-se para dentro da sala.
O rapaz tinha a cabeça entre as
mãos e não escutou o agitar das asas do pássaro e quando levantou os olhos encontrou a
bela safira deitada no feixe de violetas ressecadas.
'Eu começo a ser reconhecido' ele
exclamou.'Isto deve ter vindo de um grande admirador.
Agora posso terminar minha peça'
e ficou repentinamente feliz.
No dia seguinte a andorinha voou
para o cais do porto. Ela pousou no mastro de um grande navio e observou marinheiros
transportando grandes caixas para fora através da ajuda de grandes
cordas.'Levantar!' eles gritavam a cada caixa que subia.
'Eu estou indo para o Egito'
gritava a andorinha mas ninguém
compreendia e quando a lua levantou-se no céu ela voltou para o Príncipe
Feliz.
'Eu vim lhe dar adeus' ela exclamou.
'Andorinha, Andorinha, pequena
Andorinha' disse o Príncipe, 'você não
permanecerá comigo mais uma noite?'
'É inverno respondeu a andorinha,
breve virá a gelada neve. No Egito o sol está aquecendo as verdes palmeiras e o
crocodilos deitam-se na lama e olham
languidamente ao redor.
Minhas companheiras estão
construindo ninhos no templo de Baalbec e as pombas brancas e rosas ficam observando e
arrulhando entre elas. Querido Príncipe, devo deixá-lo, mas nunca esquecerei você e na próxima
primavera eu lhe trarei duas belas jóias no lugar daquelas que você doou. O rubi será mais
vermelho que a rosa vermelha e a safira será tão azul quanto o grande mar'.
'Na praça abaixo' disse o
Príncipe Feliz, 'lá está uma pequena vendedora de fósforos. Ela deixou cair seus fósforos na
valeta e eles estão todos estragados. O pai dela baterá nela se ela não levar algum dinheiro para casa e ela está chorando. Ela não tem
sapatos e nem meias e sua cabecinha está
descoberta. Arranque meu outro olho e dê a ela e seu pai não a
espancará'
'Eu permanecerei com você mais uma noite' disse a
andorinha, 'mas não posso arrancar o seu olho, pois ficaria cego'.
'Andorinha, Andorinha, pequena
Andorinha, faça o que eu mando'.
Então ela arrancou o outro olho
do Príncipe e voou para baixo com ele. Passou por trás da menina e deslizou a pedra entre
as palmas de suas mãos.
'Que adorável pedaço de
vidro!' exclamou a menina e correu
para casa sorridente.
Então ela voltou para o Príncipe
:' agora você está cego' disse. 'Eu ficarei com você para sempre'
'Não, pequena Andorinha', disse o
pobre príncipe. ' você deve ir para o Egito'
'Eu ficarei com você para sempre'
disse a Andorinha e dormiu aos pés do príncipe.
No dia seguinte ela pousou nos
ombros do príncipe e contou para ele histórias sobre o que ela tinha visto em terras
estrangeiras. Ela falou sobre as Ibises vermelhas que ficavam ao longo das margens do Nilo e
aprisionavam peixes dourados em seus bicos; da Esfinge que é tão antiga quanto o próprio
mundo e mora lá no deserto e sabe todas as coisas; dos mercadores que caminham
vagarosamente ao lado de seus camelos e transportam pérolas de âmbar em suas mãos; do Rei das
Montanhas da Lua, que é tão negro como o ébano e cultua um grande cristal; de uma
enorme serpente verde que dorme numa palmeira e tem vinte sacerdotes para alimentá-la
com bolos de mel; e os pigmeus que navegam sobre um grande lago em folhas planas e
largas e estão sempre em guerra com as borboletas.
'Querida pequena Andorinha' disse
o príncipe 'Você me contou coisas maravilhosas mas mais surpreendente é o sofrimento do
homem e da mulher. Não há enigma tão grande como a miséria. Voe sobre a minha
cidade, pequena andorinha, e conte-me o que você vê'
Então a Andorinha voou sobre a
grande cidade e viu os ricos felizes vivendo em suas belas casas, enquanto os mendigos estão
assentados sob as pontes. Ela voou para
dentro dos becos escuros e viu as crianças pálidas
por inanição, olhando apáticas próximas às ruas escuras.
Debaixo dos arcos da ponte dois
pequenos meninos estavam deitados abraçados para se aquecerem. 'Que fome temos'
eles disseram. ' vocês não podem
ficar aqui' gritou o vigia e elas saíram para a chuva.
Então a andorinha voltou e contou-lhe o
que tinha visto.
'Eu estou coberto com fino
ouro' disse o príncipe.'Você deve
retirá-las, folha por folha e dá-las aos meus pobres; penso que o ouro
pode fazê-los felizes'
Folha por folha do fino ouro a Andorinha retirou, até que o
Príncipe feliz ficou apagado e cinza.
Folha por folha do fino ouro ele enviou para os pobres e as faces das crianças ficaram rosadas e elas riam e brincavam
nas ruas. 'Nós temos pão' elas exclamavam.
Então a neve chegou e depois da neve, a geada. As ruas pareciam feitas de
prata, elas estavam reluzentes, longos pingentes de gelo estavam suspensos como
punhais nas calhas das casas, todo mundo abrigara-se
com peles e as criancinhas vestiam capas vermelhas e patinavam no gelo.
A pobre andorinha tornou-se
gelada e gelada, mas não deixaria o príncipe, tanto ela o amava. Ela recolhia
migalhas de pão da porta do padeiro quando ele não estava olhando e batia as asas para tentar
manter-se aquecida.
Mas por fim, ela percebeu que
estava morrendo.Ela somente teve forças para voar aos ombros do Príncipe mais uma vez.
'Adeus querido Príncipe' ela
murmurou: ' você me deixará beijar sua mão?''
'Eu estou feliz que finalmente
você está indo para o Egito, pequena Andorinha' disse o Príncipe. 'Você permaneceu tanto
tempo aqui. Mas você deve beijar-me nos lábios pois eu amo você'
' Não é para o Egito que eu estou
indo' disse a Andorinha .'Eu estou indo para a Casa da Morte. A morte é irmã do sono, não é?'
E beijou os lábios do príncipe e
caiu morta a seus pés.
Neste momento, soou um estranho
ruído de dentro da estátua como se algo tivesse se quebrado. O fato é que o
pesado coração de chumbo se partira em dois. Certamente foi o miserável peso do gelo.
Cedo, na manhã seguinte, o
Prefeito estava caminhando na praça
abaixo em companhia dos Conselheiros da cidade.Quando
passaram pela coluna olhou para cima e para a estátua
'Meu querido! Veja como o
Príncipe está desgastado' ele disse
'De fato, como está desgastado!' exclamaram
os conselheiros da Cidade que sempre concordavam com o Prefeito e
olharam para cima.
'o rubi caiu de sua espada , seus olhos se foram
e ele não está mais dourado' disse o Prefeito. 'De fato ele está pouco melhor que um mendigo!'
'Pouco melhor que um mendigo'
disseram os conselheiros'. 'E lá está um pequeno pássaro morto aos seus pés' continuou o
prefeito' Nós realmente devemos proclamar uma lei para que não se permita que pássaros
venham morrer aqui' E o escrivão do conselho anotou a sugestão.
Então, eles puxaram para baixo a estátua do Príncipe Feliz.
'Como ele não está mais belo não
tem mais utilidade' disse o professor de Arte da Universidade.
Então eles derreteram a estátua
em uma fornalha e o prefeito convocou uma reunião do conselho para decidirem o
que deveria ser feito como metal.
'nós deveremos ter outra estátua,
naturalmente' ele disse,'e será uma estátua de mim mesmo'.
'De mim mesmo' disse cada membro
do conselho e ainda estavam discutindo quando os deixei.
'Que coisa estranha!' disse o supervisor dos operários da fundição.
'este pesado coração quebrado de
chumbo não derrete na
fornalha.Vamos jogá-lo fora'. E o jogaram num monturo de poeira onde também
jazia a andorinha morta.
'Traga-me as duas mais preciosas coisas da
cidade' disse Deus para Seus Anjos; e o
Anjo trouxe para Ele o coração de
chumbo e a andorinha morta.
'Você fez a
escolha certa' disse Deus. 'no meu jardim do Paraíso esta Andorinha cantará para sempre e em minha cidade de
ouro o Príncipe Feliz terá o meu apreço'
Oscar Wilde
"O Príncipe Feliz"
tradução : Guaraciaba Perides
Um grande amor ..Andrea Bocelli canta "Con Te partirò"...Andorinha e o Príncipe Feliz.