Amigos

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Hemisférios

Alguém aqui e outro além
no mesmo tempo, em outro espaço,
outra paisagem, outra estação
e nos relógios outros ponteiros
marcando horas do coração...
quem sabe a moça, sonha com  o que?
E o rapaz o que sonha em vão?
tantas perguntas...poucas respostas.
De tanto sonho, qual solução?
Ela que sonha olhando a lua
na noite quente...mais um verão.
Ele na neve em passos lentos
vai caminhando e no pensamento
vai construindo uma canção...
Olhando estrelas, ela suspira,
constrói no sonho a quem espera
Ele percebe que alguém lhe chama,
não sabe como,
sua alma entende.
Ficam os dois, aqui e lá
silenciosos como à escuta,
de uma palavra, de um sentimento...
As almas sabem... não a razão.
Suspira a moça, fecha a janela
e o rapaz segue calado.
Quem sabe um dia, em outro tempo,
cheguem os dois  ao mesmo tempo
a se encontrarem no mesmo espaço...


Guaraciaba Perides (2011)

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Dois poetas da antiga poesia chinesa: Li Po e Tu Fu ( tradução de Cecília Meireles)*

Li Po (701 -762)

Bebo sozinho ao luar

Entre as flores há um jarro de vinho
Sou o único a beber: não tenho aqui nenhum amigo.
Levanto a minha taça, oferecendo-a à lua:
com ela e a minha sombra, já somos três pessoas.
Mas a lua não bebe, e a minha sombra imita o que
faço.

A sombra e a lua, companheiras casuais,
divertem-se comigo, na primavera.
Quando canto, a lua vacila.
Quando danço, a minha sombra se agita em redor.
Antes de embriagados, todos se divertem juntos.
Depois, cada um vai para sua casa.
Mas eu fico ligado a esses companheiros insensíveis:
nossos encontros são na Via Láctea.

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Tu Fu  (712 - 770)

 Minha barca desliza rápida. Contemplo o rio
Há nuvens passando pelo céu.

A água é também uma noite . Quando uma nuvem
escorrega por cima da lua, vejo-a escorregar no rio e
parece-me que vago em pleno céu.

Penso em minha amada, que se reflete assim no meu
coração.

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Poema de Tu Fu a Li Po

Três noites seguidas venho  sonhando contigo.
Estavas à minha porta.
Passavas a mão pelo cabelo branco,
como se uma grande dor te amargurasse a alma...

Depois de dez mil, cem mil outonos,
não terás outro prêmio que o prêmio inútil
da  imortalidade.

* do livro "Poemas Chineses" de Li Po e Tu Fu -tradução de Cecília Meireles.
Editora Nova Fronteira.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O sonho

Pisa de leve
Pisa macio
Não faz ruído
O mundo dorme
Badalam horas.
O tempo aquieta
O sono vem
E é outra história...
Mundo de sonhos
em outros planos
de brilhos tais
em outro espaço.
Lá onde a lua
espia mansa
e a gente vive
no contraponto
de outra memória.
Apenas somos
e mais que vivos
contracenamos como atores
em cenas densas
de nenhum senso
de realidade.
Mais que estranho,
escuro ou claro,
da fantasia,
do medo oculto,
de outra vida,
outra paisagem
que vagamente,
familiarmente,
é tão real...
Como no sonho,
daquele outro,
que a gente vive,
em outro tempo,
em outro espaço.
Badalam horas...
É o sol que nasce
do outro lado
da mesma esfera...

Guaraciaba Perides (2008)

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Violetas (letra para cantiga)

São Julietas das janelas
Brancas, rosas ou azuis
Violetas tao singelas
Abrem-se aos jorros de luz...

Como flores deste mundo
violetas são sinceras
Como mocinhas brincantes
Julietas são donzelas

Doce amiga violeta
de delicado perfil
Viceja pelos caminhos

E ao poeta se revela,
na doçura de seu jeito.
Julietas nas janelas...


Guaraciaba Perides  (2004)

domingo, 9 de outubro de 2011

Dois poetas ... um poema e uma canção

Uma alegria para sempre
(Para Elena Quintana)
Mario Quintana

As coisas que não conseguem ser
olvidadas continuam acontecendo.
Sentimo-las como da primeira vez,
sentimo-las fora do tempo,
nesse mundo do sempre onde as
datas não datam. Só no mundo do nunca
existem lápides ... Que importa se -
depois de tudo - tenha "ela" partido,
casado, mudado, sumido, esquecido,
enganado, ou que quer que te haja
feito, em suma ? Tiveste uma parte da
sua vida que foi só tua e, esta, ela
jamais a poderá passar de ti para ninguém.
Há bens inalienáveis, há certos momentos que,
ao contrário do que pensas,
fazem parte de tua vida presente
e não do teu passado. E abrem-se no teu
sorriso mesmo quando, deslembrado deles,
estiveres sorrindo a outras coisas.
Ah, nem queiras saber o quanto
deves à ingrata criatura ...
A thing os beauty is a joy for ever
- disse, há cento e muitos anos, um poeta
inglês que não conseguiu morrer.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

O amor em quatro tempos

Houve um tempo em que
 a primavera era uma flor,
uma canção e um assobio
Laço de fita ,flor na lapela,
sapatos de saltinho,
cabelo com fivela.
Houve um tempo em que
o verão era sorvete,
banco na praça, bicicleta
e lua cheia.
Vestido branco, braços dados,
pés descalços...e um aguaceiro
de repente.
Houve um tempo em que
o outono era promessa
de longas caminhadas em silêncio,
de corações unidos pelas almas,
a natureza em paz e ainda em festa...
Houve um tempo em que
o inverno era mais quente
dos muitos beijos em  ritmos "calientes",
taça de vinho, conversa franca e
algum braseiro.
Muitas lembranças que nos aguardam e
nos resguardam a vida inteira.


Guaraciaba Perides   (2011)