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domingo, 25 de setembro de 2016

AOS OLHOS DA INFÂNCIA


Quando encontro meu olhar no espelho
E ele me fita em profundidade
São como lagos que trazem do passado
O meus olhares da infância:

I-Florinha do campo
Tão ricas de encanto
Puseram-me na alma
líricas paisagens...
Esferas de vida
de tênue perfil
espargindo ao léu
pedaços de céu

II- Boneca de pano
De olhos de retrós
Boquinha de batom
e coração de avó.
Boneca preferida,
entre outras tantas,
frágeis, delicadas
e de tão lindas tranças...
Mas não tinham vida
Como tinha aquela
feita de pano e retrós...
Que tinha jeito de gente
de cara simples e singela
E coração de avó...

III- Eu vi uma velha
com a gata no colo
A gata é da velha e a velha é da gata
Passa a mão no pelo,  passa a mão no pelo, passa a mão no pelo...
A gata ronrona e a velha que chia.
Lá fora na mata...um pássaro pia...

IV- Jogo de sombras na parede,
Uma cantiga de ninar,
Brinquedo de trava língua,
Uma história  de encantar...
Correria com as primas
Um andar de bicicleta
Gosto de frutas nos dentes,
uma certeza da vida
E no peito um coração aberto
para os guardados da vida...

Tudo isto nos meus olhos ao olhar que  me reflete o espelho...


Guaraciaba Perides

João e Maria   cantada por Chico Buarque e Nara Leão   (aos olhos do João)





domingo, 18 de setembro de 2016

A FINA FLOR DO TEMPO


Escorre como areia
entre os dedos.
Num círculo de luz
mais uma lua
Mais um périplo do sol
no  Universo
Mais um suspiro de amor
entre os amantes
Mais um passo na estrada
e no caminho.
Mais um sonho que se esvai
e que se perde
Mais um minuto  no
calor da noite
Mais uma estrela cadente
risca o céu
Mais uma gota de orvalho
cristaliza.
Uma flor que prenuncia
a primavera
Um lendário pavor circunda
o sono
Uma chama que se expande
brilha forte
Até que em carvão se esmoreça.
Uma ruga que aparece
em seu rosto
Um sorriso entristecido
na lembrança
Uma tênue esperança
de um momento
Ser aquele que se espera
toda vida.
Ver a vida para trás
e para frente
Estender-se como conto
bem descrito
Onde a paz é o que se quer
e o que se pede
Ficar feliz quando o amor
é bem servido.
Ver os filhos florescerem
e darem frutos
Ver os rebentos da videira
como cachos
Experimentar o sumo doce
do vinhedo
Saboreando a fina flor do tempo
que escorre como areia
entre os dedos.


Guaraciaba Perides


Hier encore   com Charles Aznavour



Flor de cerejeira  imagem retirada da  internet


sábado, 10 de setembro de 2016

FESTA DE LUA


Perdeu- se pelos arredores e entrou na mata... ao longe avistava a rodovia 
e por isso não temeu.
O lugar era agradavelmente fresco e pensando, pensando , subiu a encosta.
Ao longo do caminho encontrou uma clareira e por entre as ramagens o sol
iluminava   o chão criando sensações de luz e sombra.
Sentou-se entre as grossas raízes de uma árvore gigantesca que lá no alto
abria-se frondosa.
Encostou seu corpo ao tronco, fechou os olhos e ficou ouvindo o  chilrear
dos pássaros. Dali se ouvia também as águas de um pequeno rio correndo
ao largo.
Era uma sensação tão boa!  Muita paz!
Quando deu por si percebeu que adormecera e já era noite.
A luz do sol fora substituída pela luz da lua  que pelas folhas  das árvores
infiltrava-se agora, trazendo brilho de prata onde antes havia ouro.
Sentiu frio...e também fome.
Ao lado encontrou um amontoado de frutinhas...experimentou, gostou e
comeu mais.
De repente, viu-se num sonho delirante.
Vozes se aproximavam quase em sussurros, muitos risos... e pequeninos
seres  adentraram à clareira, puseram-se em   ciranda e iniciaram uma  linda
canção que  falava de luar , de amor e dos deuses da floresta.
Dançavam alegre e espertos ,de vez em quando, olhavam de soslaio e sorriam.
Ficou passivamente em silêncio.
Os vagalumes acompanhavam  com seus brilhozinhos o pisca- pisca das estrelas.
Além do canto o encanto!
E foi assim por algum tempo, até que a lua girou e se perdeu do outro lado.
As criaturinhas desmancharam a roda e saíram sussurrando  e adentraram 
novamente à mata.
Ficou realmente escuro, mas ao longe e abaixo via-se a rodovia,os carros passando
indicavam a direção do retorno.
Além do mais a madrugada já clareava devagar o caminho....
Foi descendo lentamente a encosta e depois de algum tempo chegou em
casa que fora construída ao sopé da montanha.
Perguntou para si mesmo : Teria sido um sonho?
Mais tarde, já com o sol brilhando forte saiu para a varanda   e  ficou
olhando ao longe, mas nem tão longe, para  a montanha que subia placidamente
entre seus vários tons de verde.

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DESCE   A   NOITE

Piscam, piscam vagalumes sob a noite escura
Coaxando sapos nas charnecas
Grilos perfurando do silêncio , o breu,
Adormece a mata...
Águas vão rolando seixos na ribeira
peixes se aquietam junto à areia branca
Aves que noturnas grasnam atravessando o espaço
Estrela cadente anunciando um sonho.
Sob um céu de estrelas
Toda  a noite desce...
E se houver Festa de Lua,
prateada luz banhando a mata densa,
Seres da floresta dançam seus folguedos
murmurando prece  a  Deus, cantando seus segredos...
Na beleza que perpassa a mata
quando a noite desce.

 Guaraciaba Perides


A  montanha


O caminho


O regato



A montanha nunca mais será a mesma...





domingo, 4 de setembro de 2016

UM HOMEM...


Sol escaldante
Areia fervente
Os pés cansados
Peito ofegante
Olhos ardentes
Lábios ressequidos...
Um  homem caminha
solitário
pelo vasto deserto
que se expande.
Solidão...
O que pensa o homem?
O que o faz caminhar
pela imensidão do nada?
O que da vida espera
e qual o sonho que o move?
O sol se põe, desce a escuridão
O vento faz girar
as dunas movediças
O frio abate e congela o tempo
A fome açoita
A sede mata
O homem caminha
movido pela força do seu Eu...
Renasce o sol e ainda tenro
aquece o coração do homem
Mais um pouco...mais um pouco...
Pensamentos obscuros
lhe percorrem a mente
Mas a fé inquebrantável
o sustenta
E reafirma a esperança que se
aninha na certeza.
Mais um pouco...
Ao fundo se avista a cordilheira
e além do além...a vida que renasce.
Algo no ar promete e uma  pequena brisa
lhe agita docemente as vestes...
Além do além... vão se conformando
silhuetas de paisagens em tons
que se afastam do escaldante chão.
Miragem?  um sonho alucinado?
A alma  que se esvai,o corpo que decai?
Não, não, por Deus!
Mais um pouco...
Gritos ecoam e o ar mais fresco ainda
Paisagens se definem e caules compridos,
finos e delicados  alteiam-se
em pequenos blocos verdejantes.
Relinchos de animais, balidos de ovelhas,
gritos de crianças em correrias...
Tendas e mais tendas...vida humana
O poço...a água...o alimento.
Oásis!
O  céu do caminhante...

Guaraciaba  Perides

Música Instrumental ´Deserto'




A esperança que move montanhas...