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sábado, 16 de julho de 2016

ÁGUAS PROFUNDAS

Peixes exóticos de cores redundantes
Algas verdejantes
Lulas estáticas, misteriosas intenções...
Cardumes inexatos,
Olhos que se espreitam
Estrelas semoventes
Conchas que se abrem
em pérolas ocultas...
Sombras enormes farejam alimentos
Bocas como grutas, enfileirados dentes,
rastreiam como monstros
as presas indefesas;
e tudo engolem por satisfação
e instinto.
Anêmonas singelas que de cores belas,
sugerem flores de sutil encanto
Enquanto  fluídas águas vivas
ferem  e matam sem deixar seu
rastro...
E tantos seres vivos e formas
sequer imaginadas
E cada qual com seu cuidado e medo!

E entre  todos eles...
Eles , os "delfins"
que dançam e brincam
como alegres pássaros,
que não são de fato.
Mas por instinto traçam
as equações de um mundo novo...
E assim se lançam para o espaço
que além da água existe.
E vive o  Outro!

Guaraciaba Perides

El delfin azul...


às vezes faltam palavras...às vezes faltam
faltando o senso, a razão e o porquê de tudo...

domingo, 10 de julho de 2016

CAMINHO DOS MORROS (UM POEMA DE CORA CORALINA)

O morro de Zé Mole
tem um  veeiro escondido.
Tem um filão encantado.
toda gente sabe disso,
não é lenda nem inventação.
É um grosso veeiro,
legítimo , natural,
perdido numa gruna,
afundado numa solapa
que só Pretovelho sabia

Pretovelho candongueiro,
resto de cativeiro,
morava no Chupa- Osso
lenhava lá no Zé Mole.
Vez por vez
quando nos dias emendados
de chuva
o burro derrengado,
manquitola,
nao podia com o cargueiro
de lenha,
Pretovelho
resto de cativeiro,
no escuro da noite,
sozinho no morro,
metido na sua ronha,
sovertia-se na gruna,
sumia-se na solapa
e
voltava trazendo a cumbuquinha
de pescoço
cheia de ouro fino,
sem tarja.

Vendia a seus conhecidos
no comércio da cidade.
Matava sua precisão.

O velho não contava
onde estava
aquele grosso filão.
Só dizia, se queria,
quando instado:
"Deus dá
para o tamanho
da percisão".

O que o povo
não ardilou
O que o povo
não sofismou
O que o povo
não especulou
pra Negrovelho  contar,
dessa furna,
dessa gruna,
dessa solapa!
Pretovelho calado,
mascando seu fumo,
Pretovelho fechado
cuspindo de banda,
Pretovelho enleado
na sua ronha.
Nunca dos nunca,
contou
pra seu ninguém
o lugar desse filão.
Só contava que era
maior do que a percisão.

Um dia
Pretovelho ,
resto de servidão,
ficou doente,
muito mal
para morrer.
Gente piedosa,
gente inzoneira.
Gente ardilosa da cidade
tomou conta do Negrovelho.
Muito trato,
muito caldo,
muito agrado,
pra contar
daquele ouro
que ficava assim perdido,
sem proveito
depois que Deus o levasse.

Pretovelho estava  no fim
Sentiu aquela gastura.
Aquele frio da morte.
Disse então:
" -  a,  pois....."
Resolveu publicar
o mistério daquele ouro.
Não queria morrer com o segredo.
Podia vir a penar
por via desse tesouro.

Não era fácil assim
como pensavam.
Não adianta contar.
Ninguém podia acertar.
"-a ,    pois...."
Que o levassem até lá.
O pusessem  morro acima.
O descessem morro abaixo,
que ele  então mostraria
aquele veeiro grosso
desse ouro bem guardado,
cobiçado.

Gente piedosa.
Gente astuciosa,
E ardilosa,
da cidade,
o puseram numa rede
com muito jeito e cuidado.
Suspenderam pelos punhos.
Ajeitaram sobre os ombros.
Barafustaram
pro morro.
Andaram que andaram.
Subiram que subiram.
Desceram que desceram.
Balangando.
Planejando,
então,
tamanho descomunal,
fora da percisão.
Numa cruza de carreiros,
precisaram perguntar
Pretovelho,
daqui por diante,
o trilheiro  a tomar.
Sopesaram.
Pararam.
Abriram a rede
Perguntaram pelo rumo.
Pretovelho abriu a boca...
Sororoca.
Revirava olhos pra cima
Repuxava uma carranca...
Sororoca
Acabava de morrer.

E o ouro do Zé Mole
lá está
pra quem quiser procurar.

Cora Coralina   (in  POEMAS  DOS   BECOS   DE   GOIÁS E  ESTÓRIAS    MAIS)
Globo Editora




Casa onde viveu Cora  Coralina   ´a famosa Casa da ponte'  em Goiás Velho
foto de Eduardo Vessoni

Querida Cora Coralina que nos deixou saborosas histórias  de um mundo antigo





domingo, 3 de julho de 2016

A VELA DO DALAI LAMA- THE DALAI LAMA'S CANDLE- LETRA E MÚSICA DE ERIC BOGLE

Eu tenho uma vela que foi acesa de uma vela que foi acesa
de uma vela que foi acesa pelo Dalai Lama
Foi um  presente de um amigo há longo tempo seguidor de ZEN
Que usa palavras como ''bacana", "legal"  e "karma"
e penso que nunca encontrei tantas gentis orações vindas do Tibet
Na  luz da vela sua  coragem parecia cintilar
Então eu esperao que sua  pequena e brava chama possa
guiá-lo  de novo ao lar
e um dia seu longo exílio acabará.

Agora, eu tenho uma fotografia copiada de uma fotografia
de uma fotografia tirada pela minha mãe
É de mim e de  meu pai e é a única que eu tenho
que mostra  nós dois juntos.
eu tinha nove ou dez anos, e eu não estava olhando para as lentes
mas para algo que havia ao lado das bordas da   câmara
Enquanto atrás de mim meu pai com suas mãos calosas
descansava-as suavemente sobre os meus ombros

No meu jardim há uma rosa que foi cultivada  de uma rosa
plantada há muitos anos pela minha avó
É chamada de Estrela Vesper e sempre foi a minha favorita
Para mim o seu perfume  não existe em  nenhuma outra
Pois seu perfume tão doce e suave, leva-me de volta através dos anos
quando a história da minha vida ainda não tinha sido escrita
E em  uma branca e feliz página, protegida e segura, eu brincava
entre as rosas do jardim de minha avó.

Dentro de mim há uma alma que nasceu de uma alma
nascida de  todas as almas que vieram antes de nós
É uma forte e inquebrável linha que se expande através do tempo.
Minha vida é uma minúscula partícula de seus antigos sons
que se estendem do passado para gentilmente colocar-me ao seu alcance
e voltar para mim um novo dia que amanhecendo
canta profundamente dentro de mim, por quem eu sou e
ainda possa ser
 vivendo de amor e integração.

Traduzido por Guaraciaba  Perides



A  música : The Dalai   Lama's  candle.


O círculo de ouro
não tem início
e nem tem fim
completa-se em si mesmo
como um anel de ouro e de rubi... Vida!
Guaraciaba Perides.



Um quadro de Van   Gogh