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domingo, 30 de outubro de 2016

QUE DÊ POESIA

QUE   DÊ    POESIA

Que seja belo, que seja encanto
Que seja graça ou que seja pranto
que seja luz ou oceano
Ou por do sol , sem desengano;
Ou sendo triste ou melancólico
Ou água pura ou brisa mansa
Que sejam  olhos, que sejam bocas,
que em sendo amor seja o destino...
E sobretudo, sem  muito alarde,
sem preconceito ou arrogância
Que seja leve como uma  pluma,
palavras mansas que deem poesia


ARAME   FARPADO

Este terreno é particular
Não se aproxime senão sairá ferido
Não se aproxime que eu não lhe quero aqui
não quero dividir o ódio que é  só meu
 não quero partilhar a minha desconfiança
Ninguém é digno de minha  esperança
Me deixe só com minha dor...



PALAVRAS

A doce palavra revela o instante da luz
O fel da palavra revela o instante da cruz
A mansa palavra revela o instante da paz
a feia palavra revela o instante da guerra
Na luz e na cruz, na guerra ou na paz
Palavras são ditas, benditas ou não;
Soluçam, sorriem, sussurram ou gritam,
sofridas na luta que a vida da  Terra
impõe a condição
O fel da palavra revela
o instante de cruz
A feia palavra revela
o instante da guerra
A mansa palavra revela
o  instante da paz
A doce palavra revela
o instante da luz

APENAS UM VERSO

Eu quero um verso que seja singelo,
que seja simples e sem atavios
Um verso ameno e inocente
que diga apenas o que se sente
que expressa apenas no que revela
o sol que brilha no chão da lua,
deixando doce no céu da boca,
gosto de estrelas no firmamento.
Que seja alegre como na infância,
brinquem em jogos como crianças...
Que seja limpo como um sorriso,
que seja ouro , que seja prata...
Traga no verbo como relíquia
um acalanto de puro encanto
Que traz ao filho e à sua mãe
toda a magia de um breve instante.

Guaraciaba Perides

O poder da palavra cantada     em"  CAPITU"     deliciosa música e letra  do Mestre Luís Tatit


O quanto pode leve e  ter poesia

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

PEQUENA JOIA

Você se lembra quando?
Talvez não lembre o quanto...
Permaneceu no tempo
ou desmanchou no vento?
Foi ouro que brilhou na luz do que se quis
Será que foi assim, quiçá, feliz?
São brincos de amor
Na flor do tempo
Restou o aroma ou se perdeu no vento?
São joias de uma era e já sem brilho
Estrelas mortas na luz do esquecimento.
Você se lembra quando?
Talvez não lembre o quanto...
Soprou como uma brisa,
perdeu-se na memória...
Teria sido quando?
Talvez não fosse tanto...
Aqui estou eu, mirando a luz da lua
prateando o lago
O mesmo lago das lembranças vivas,
e a presença sutil da brisa mansa
traz a lembrança do amor que então tivemos.
As prateadas  águas   ainda refletem
todos os planos que fizemos,
todos os sonhos que sonhamos,
toda a felicidade que   vivemos.
Você  se lembra quando?
Você se lembra o quanto?
O lago está presente onde sempre esteve
As estrelas imóveis em seus fulgores...
A lua passeando em seu corcel de nuvens
A vida era então somente flores
E o que fazer de uma memória oculta
em um tempo acrisolado na distância?
-Fazer de um sonho uma pequena joia,
um coração de ouro preso ao peito.

Guaraciaba Perides


Rêve d'amour de Franz  Listz



domingo, 9 de outubro de 2016

SE Rudyard Kipling (1865 - 1936) tradução de Guilherme de Ameida


Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;

Se é capaz de pensar -  sem que a isso só te atires;
De sonhar - sem fazer dos sonhos os teus senhores;
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;

Se és capaz de arriscar numa única parada,
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;
De forçar coração, nervos, músculo, tudo,
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!";

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E, de amigos, quer bons, quer maus te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo
E o que é mais - tu serás um  homem ,ó meu filho!



Nota : este poema escrito em  no princípio do século XX  e representativo dos conceitos morais vigentes na época vitoriana demonstram concepções de valores com os quais procuravam educar
as crianças  e de fato , foi um poema bastante  difundido e decorado por crianças de várias gerações...
Representa um ideal de  pessoa humana  que segundo  o autor projetaria um  esboço de Homem capaz de alcançar o máximo de seu valor. Depois disso, vieram as grandes guerras, a Primeira e  a Segunda Guerra mundial onde milhões de pessoas foram massacradas por conceitos  embasados na  fome de poder e nos ranços de preconceito.  Agora, passadas décadas  de avanços extraordinários em todos os campos da  sociedade, onde  tantas idéias foram formuladas e disseminadas  quais seriam  os valores  ainda vigentes e quais  seriam  aqueles que fariam de um  homem contemporâneo um verdadeiro Homem?
Penso que atualmente muitos dos conceitos  expressos  seriam altamente questionados por opiniões divergentes. Para refletirmos...




domingo, 2 de outubro de 2016

O HOMEM (II)



O homem caminha pela praia
A noite é sem estrelas e vagamente
a lua brilha  perpassando nuvens.
Os pés na areia fina vão fazendo sulcos
logo varridos pelas doces ondas...
Não está tão frio, mas uma brisa leve
faz ondear a túnica que veste.
Sua pele sente o arrepio.
Para onde vai o homem em seu caminho?
Seus pensamentos vão  a  frente e retornam
e   vagamente lhes dão algum sentido...
Na verdade, não busca nada, nem  procura.
Apenas caminha sem destino.
Está só, consigo mesmo e satisfeito
e o homem é o  todo do seu ser pulsante.
O coração que bate, o ar que inspira,
o sangue  que lhe corre   às veias,
dão a ele o seu sentido mais profundo
e faz plasmar o seu estar no mundo.
A  Vida está  nele e lhe completa.
Sente o existir do agora e é o que lhe basta.
O Homem está só e a Vida é o Deus que lhe alimenta...
Caminhar na praia é o seu destino.
O  homem está feliz - então, solta sua voz  e canta...

Guaraciaba  Perides


Luciano Pavarotti       " Sole mio".....para representar o  estado de espírito do caminhante pela vida e o seu "sol interior"