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domingo, 28 de julho de 2013

ESPECULAÇÕES EM TORNO DA PALAVRA HOMEM

Mas que coisa é o homem,
que há sob o nome:
uma geografia?

Um ser metafísico?
uma fábula sem
signo que a desmonte?

Como pode o homem
sentir-se a si mesmo
quando o mundo some?

Como vai o homem
junto de outro homem,
sem perder o nome?

E não perde o nome
e o sal que ele come
nada lhe acrescenta

nem lhe subtrai
da doação do pai?
como se faz um homem?

Apenas deitar,
copular, à espera
de que do abdômen

brote a flor do homem?
Como se fazer
a si mesmo, antes

de fazer o homem?
Fabricar o pai
e o pai
e o pai e outro pai

e um pai mais remoto
que o primeiro homem?
Quanto vale o homem?

Menos, mais que o peso?
Hoje mais que ontem?
Vale menos velho?

Vale menos morto?
Menos um que outro,
se o valor do homem

é medida  de homem?
Como morre o homem,
como começa a?

Sua morte é fome
que a si mesmo come?
Morre a cada passo?

Quando dorme, morre?
Quando morre, morre?
A morte do homem

Consemelha a goma
que ele masca, ponche
que ele sorve, sono

que ele brinca, incerto
de estar  perto, longe?
Morre, sonha o homem?

Por que morre o homem?
Campeia outra forma
de existir sem vida?

Fareja outra vida
não já repetida,
em doido horizonte?

Indaga outro homem?
Por que morte e homem
andam de mãos dadas

e são tão engraçadas
as horas do homem?
Mas que coisa é o homem?

Tem medo da morte,
mata-se sem medo?
Ou medo é que o mata

com punhal de prata,
laço de gravata,
pulo sobre a ponte?

Por que vive o homem?
Quem o força a isso,
prisioneiro insonte?

Como vive o homem
se é certo que vive?
Que oculta na fronte?

E por que não conta
seu todo segredo
mesmo em tom esconso?

Por que mente o homem?
mente mente mente
desesperadamente?

Por que não se cala,
se a mentira fala,
em tudo que sente?

Por que chora o homem?
Que choro compensa
o mal de ser homem?

mas que dor é o homem?
Homem como pode
descobrir que dói?

Há alma no homem?
E quem pôs na alma
algo que a destrói?

Como sabe o homem
o que é sua alma
e o que  é alma anônima?

Para que serve o homem?
para estrumar flores,
para tecer contos?

Para servir o homem?
Para criar Deus?
Sabe Deus do homem?

E sabe o demônio?
Como quer o homem
ser destino, fonte?

Que milagre é o homem?
Que sonho, que sombra?
Mas existe o homem?

Carlos Drummond de Andrade

Em função do poema de Drummond encontrei este magnífico vídeo sobre
o ser humano em uma cápsula do tempo, de sua vivência   e de sua existência...
Para refletirmos em função das especulações poéticas do poeta e a dimensão
de nossa presença histórica no mundo.



domingo, 21 de julho de 2013

UM SONHO DELICADO

Um sonho delicado
de beleza etérea
Muita doçura no ar...
No céu um sol radiante
Uma alegria sincera
Festa de amor e de paz
Sorrisos de boa vontade
que diziam sem dizer:
-Eu amo todos vocês!
Amáveis no trato e nos olhos
Esperavam...
Jovens  passavam apressados
trazendo buquês de flores
que para o arranjo da festa
fariam  belo destaque
-Que festa essa, Meu Deus?
Sem pompa e nenhum enredo
tão simples em sua beleza
na pureza das pessoas
em círculo reunidas...
Flashs de luz
Doçuras de bem querer!
Um sonho de vida pura
Um simples estar no mundo
num sentido mais profundo...
Quando voltei desse sonho (?)
Só pude me perguntar:
-Qual instância percorrida
por minha mente adormecida
minha alma pode alcançar ?

 
 
Guaraciaba  Perides (2013)

quarta-feira, 17 de julho de 2013

De Flores e Espinhos

SOBRE   O  TEMA  SELECIONEI   ALGUNS  TEXTOS  E CANÇÕES


4º  Motivo da Rosa

Não te aflija com a pétala que voa
Também é ser deixar de ser assim
Rosa verás, só de cinza franzida
Mortas intactas pelo teu jardim
Eu deixo aroma até nos meus espinhos,
ao longe, o vento vai falando em mim
É por perder-me  é que me vão lembrando
Por desfolhar-me é que não tenho fim

Cecília Meirelles

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Primavera

É primavera agora, meu amor!
O campo despe a veste de estamenha;
Não há árvore nenhuma que não tenha
O coração aberto todo em flor!

Ah! Deixa-te vogar, calmo, ao sabor
Da vida...não há bem que nos não venha
Dum  mal que o nosso orgulho em vão
desdenha!
Não há bem que não possa ser melhor!

Também despi meu triste burel pardo,
E agora cheiro a rosmaninho e a  nardo
E ando agora tonta, à tua espera...

Pus rosas cor-de-rosa em meus cabelos...
Parecem  um rosal! vem desprende-los!
Meu amor, meu Amor, é  Primavera!

Florbela Espanca

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COROAI-ME  DE ROSAS

Coroai-me de rosas,
Coroai-me em verdade
     De rosas  -
Rosas que se apagam
Em fronte a apagar-se
      Tão cedo!
Corai-me de rosas
E de folhas  breves.
       E basta.

Fernando Pessoa (Ricardo Reis)
12-6- 1914

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LA JARDINERA   _Violeta Parra


 
 
 
 
 
A flor e o Espinho  ...Um samba nostálgico de Nelson Cavaquinho

Espero que gostem!

sábado, 13 de julho de 2013

Poesia e Canção na História da Música Popular Brasileira


A Casinha da Colina

A letra foi publicada no Almanaque de Modinhas com versos de Luiz Peixoto e música e arranjo de
Sá Pereira.Apareceu pela  primeira vez no Teatro  de Revista do Rio de Janeiro cantada por Araci
Cortes. A primeira gravação em disco foi pela  Odeon em l925  por Sílvio Pereira  e posteriormente por Sílvio Caldas..

Você sabe de onde eu venho
de uma casinha que eu tenho
fica dentro de um pomar
É uma casa pequenina
Lá no alto da colina
De onde se ouve longe o mar
Entre as palmeiras bizarras
Cantam todas as cigarras
sob o pó de ouro do sol
Do beiral vê-se o horizonte
No jardim canta uma fonte
e na fonte o rouxinol..
Do jasmineiro tão branco
Tomba, de leve, no banco,
a flor que ninguém colheu
No canteiro há uma rosinha
No curral uma ovelhinha
E em casa, meu cão e eu.
Sobre minha cabeceira
minha Santa Padroeira
que está sempre em seu altar
Cuida de mim se adoeço
Vela por mim se adoeço
e me acorda devagar.
Quando eu desço pela estrada
e olho a casa abandonada
sinto ao vê-la não sei quê
Anda tudo uma tristeza,
como é triste a natureza
com saudade de você.
Se você é minha amiguinha
venha ver minha casinha
Minha Santa e meu pomar
Que o meu cavalo é ligeiro
É uma légua só de outeiro
chega a tempo de voltar.
Mas se acaso anoitecer
Tudo pode acontecer,
o que será de mim depois?
A casinha pequenina,
lá do alto da colina,
chega bem para nós dois.
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Um vídeo com alguma  lembrança da Casinha da colina
Em algum lugar do passado!  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

sexta-feira, 5 de julho de 2013

E POR FALAR EM SAUDADE...`


MEMÓRIA

AMAR O PERDIDO
DEIXA CONFUNDIDO
ESTE CORAÇÃO

NADA PODE O OLVIDO
CONTRA O SEM SENTIDO
APELO DO NÃO

AS COISAS TANGÍVEIS
TORNAM-SE  INSENSÍVEIS
À PALMA DA MÃO

MAS AS COISAS FINDAS
MUITO MAIS QUE LINDAS,
ESSAS FICARÃO

Carlos Drummond de Andrade
(Claro Enígma, 1951)

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ONDE ANDA VOCÊ     de Vinícius de Morae

SONETO DA SEPARAÇÃO

De repente do riso fez-se o pranto
silencioso e brando como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfaz a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinícius de Moraes


Dança da Solidão com Marisa Monte e Paulinho da Viola


E por falar em saudade...algumas são boas, outras nem tanto....mas fazem parte do acervo das histórias individuais e no conjunto  o acervo da Alma  Humana.