Semeando sonhos
Vão brotando flores
De tão várias cores
Tão mimosos jeitos
Soltando perfumes
Enfeitando vidas
Enredando cercas
como rosas brancas
Que em buquês singelos
vão ornando as belas
cultivando amores...
Semeando sonhos
Estrelas cadentes
que no céu apontam
nuvens da algodão...
E uma lua branca
vem trazer de prata
mais uma ilusão
Palavras indicam coisas
Simbolizam sentimentos
Algumas vezes se escondem
atrás da esquina do pensamento.
Às vezes, se mostram, oferecidas,
mostrando apelos, quando não têm
nada a dizer...engano ledo...
Deslizam no papel, ligeiras ou breves,
esdrúxulas desafiam o incauto.
Palavras espertas que se juntam
formando outras de sentido oculto;
nem tanto oculto, mas cacofonia
que trai a origem da palavra culta.
Passeiam as feias, mas também as belas
que fazem cânticos de sons em nosso ouvido...
E de repente, palavras matreiras
põe-se a brincar como crianças,
se embaralham , se reconstroem
em outras tantas;
rompendo regras, travestindo idiomas
declinações que vêm lhes dar
nova roupagem...
Põe-se o purista em "palpos de aranha"
amam provérbios em em profusão
e presunçosas quando se juntam,
Vêm pressurosas, expor de fato,
sua intenção...
Guaraciaba Perides
Para completar, a "aula" do querido professor Luiz Tatit
Como estranhas lembranças de outras vidas,
que outros viveram, num estranho mundo,
quantas coisas perdidas e esquecidas
no teu baú de espantos...Bem no fundo,
uma boneca toda estraçalhada!
(isto não são brinquedos de menino...
alguma coisa deve estar errada)
Mas o teu coração em desatino
te traz de súbito uma idéia louca:
é ela, sim! Só pode ser aquela,
a jamais esquecida Bem- Amada.
E em vão tentas lembrar o nome dela...
e em vão ela te fita...e a sua boca
tenta sorrir-te, mas está quebrada!
Mário Quintana (in Rua dos Cataventos & Outros Poemas)
O QUE O VENTO NÃO LEVOU
No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as
únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...
Mário Quintana (in Rua dos Cataventos & Outros poemas)
No vídeo Antônio Abujamra declama o poema O Tempo de Mário Quintana
O tempo no vento
percorre os caminhos
que foram desfeitos.
Perderam-se os sonhos
em doces passagens
da sua presença...
E pelas estradas
em campos de estrelas
e amores intensos,
nas luzes de afeto
assim permanecem
no tempo e no vento.
E tais sentimentos que
ficam à deriva de
outros momentos,
são leves perfumes
da mais mansa brisa
que com gesto leve
marcam breve lembrança
da sua presença...
e fico assim,
como que suspensa,
sentindo o tempo,
vigiando o vento...
na esperança que
o vento traga
de volta o tempo
da doce passagem
da sua presença...
Reflexo branco a oeste sobre os montes
e a lua em jaspe alonga-se á distância
desde o passado o tempo sempre avança
mil anos seguem pelo vento e perdem-se
no mar areias transformam-se em pedra
peixes em Qin passaram sob a ponte*
e a luz no céu vagando ainda mais longe
mesmo ao pilar de bronze erode o tempo**
LI-HE (in Antologia da poesia clássica chinesa- Dinastia Tang)
*Refere-se a história da visita que realizou em 215 a.C. o imperador Qin Shi Huang,
fundador da Dinastia Qin (246-210 a. C.), unificador da China e responsável pelo
início da Grande Muralha, á cidade costeira da província de Hebei hoje chamada
Qin Huang Dao em sua homenagem. Obcecado com o elixir da imortalidade (lenda
taoista), ali realizou uma homenagem ao deus do Oceano. mandou construir uma ponte
de pedra em direção ao mar e que por ela enviados seus partissem para as ilhas dos
imortais á procura do elixir.
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** O imperador Han Wu Di, da Dinastia Han, no esforço de obter a imortalidade,man
dou fazer, em homenagem a uma divindade taoista, grande estátua de bronze em cujo
topo está um prato para recolher orvalho puro, que serviria ao "elixir da imortalidade"
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Notas de rodapé sobre o poema in Antologia da poesia clássica chinesa -Dinastia Tang
comentário pessoal: considero as notas de rodapé importantes para a compreensão da be
leza do texto poético sendo os fatos que o geraram tão poéticos quanto.
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