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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Meninas do Brasil (vista parcial da Lua)

I- Uma sombrinha de renda
Um leque de seda chinesa
Um par de luvas brancas.
Botinhas de pura pelica,
por baixo a dor do espartilho
e anáguas engomadas.
O cabelo em tranças,
um lenço de linho bordado,
um corpete bem justinho,[
a saia de mil babados
e está pronta a sinhá.
Vai a mocinha bonita
andar no passeio público
em busca do bem amado...
E na linguagem do leque
e na linguagem das flores
a moça se comunica
com os olhares compridos
e sorrisos escondidos
subterfúgios antigos
de um tempo que já se foi.
.........................................
II-A menina de biquini
toda enxuta e louçã
com seu chapéu de palha
passa pelo  poeta que
 cheio de sentimentos
e amores ainda ocultos
canta-lhe em alguns versos
tudo aquilo que ele vê:
"Olha que coisa mais linda,
Mais cheia de graça.
é ela menina que vem e que passa
num doce balanço a caminho do mar"*
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III- No metrô superlotado
vai a menina ancorada,
justaposta a outros corpos,
olhar vazio no espaço.
Cabelos recém lavados,
calça de jeans apertada,
equilibrada nos saltos,
mais bolsa e badulaques,
fones de ouvido ligados
a um celular da moda.
Vai a menina ouvindo
alguém que canta pra ela
mais uma canção de amor...
........................................
IV- Vai a menina no tranco
carregando o fardo que lhe coube
na cabeça ou nos ombros,
no esforço de cada dia,
nas mãos lanhadas e secas,
nas unhas que já lascadas e
no sábado, quem sabe,
vai conseguir consertar...
Vai de avental ou bermuda
pernas de fora e chinelos,
cabelo tingido ao meio.
as vêzes um lenço cobrindo
o pó d a oficina ou da terra
que lhe endurece a pele
e um travo de fel na boca...
........................................
V-A menina escura e forte,
balança o corpo inteiro,
na lida do dia a dia,
lavando roupa no rio,
bate na pedra com força,
enxágua e tira o sabão:
torce com toda firmeza
a roupa de seus senhores.
Mais tarde, com ferro  a carvão,
muita goma e muito esforço
vai fazer brilhar a roupa
da mesa e da cama adornada...
mais os  vestidos de seda,
mais anáguas engomadas..
No fim do dia, ela sonha,
afinal, o que sonha a menina
escura e forte,
no seu catre de enxovia?
..........................................
VI- A moça no shopping-center
entre luzes e mármores
passa alerta pelas vitrines
às  novidades da moda.
Há lojas em  que ela entra,
faz descer lindos sapatos
ou vestidos transados
por modistas afamados...
As mocinhas atendentes
de modos bem educados,
de cabelos cacheados
e roupas bem comportadas,
fazem  as vêzes com gosto,
um sorriso congelado
como se tudo não passasse
de uma agradável novela....
.........................................
VII- Chega  a noite e o fim do dia
Uma lua branca no céu....
Na cidade ou no campo,
em tempo de hoje ou de outrora.
Tudo de maneira igual,
há meninas que saem às ruas,
outras que vão para o descanso,
outras que vêm novelas,
outras que choram escondidas.
Algumas que lutam e se esforçam,
fazem trabalhos de escola...
Em todos os lugares
somente nos dias de hoje,
os cellulares apitam
com singulares sons diversos.
São amigas que cochicham,
são namorados que juram
que em tudo se pode dar jeito
e que a vida é um sonho,
nem sempre o mais perfeito,
mas todos   têm o direito
de viver e de sonhar.

* citação de "Garota de Ipanema" de Vinicius de Moraes.

Guaraciaba Perides  (2011)

2 comentários:

  1. Vista parcial da lua... com os pés bem assentes no Brasil. No Brasil? Aí ou em qualquer lugar.
    Adorei, Guaraciaba!

    Beijo :)

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  2. Amei sua sensibilidade e a dança das palavras...!

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