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sexta-feira, 27 de julho de 2012

Pierrot e Colombina


Quis escrever um verso bem bonito
enfeitado com botões de miosotis,
laços de cetim embaralhados
às purpurinas do meu bem querer.
Quis colocá-lo em frente à sua janela
dentro de um cesto de capim dourado
de modo que o sol ao levantar-se
no horizonte
fizesse brilhar o verso,
desbrochando a flor.
Então, você ao levantar, sorrindo,
com coração tão leve de sentir-se amada
pusesse ao colo o meu verso breve,
fechasse os olhos e pensasse em mim.
E que ficasse para sempre em sua memória
aquele verso que eu quis tão belo,
mas, que entretanto, como outros tantos,
não foi capáz de lhe falar de amor


Guaraciaba Perides (2012)



De" Pierrot  le  fou"  -filme de Jean  Luc  Godard  (1965) um fragmento postado abaixo;
artistas Anna karina e   Jean Paul Belmondo.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Fantasia (Campos de Centeio)*

Inserida em um quadro uma paisagem
E nela  um campo de centeio
O vento que move as folhas da seara
é o mesmo que brinca em teus cabelos.
Olho nos teus olhos e minha imagem
reflete dentro deles e me sorri...
Pego em tuas mãos e juntos penetramos
nas tintas ainda frescas do pincel.
Por entre matizes de diversas cores
somos o azul e o amarelo que se esfumam
por dentro da pintura que recria
a realidade natural do sonho.
E de repente, a cantar me vejo
rodopiando contigo na paisagem...
E o nosso amor que se transpõe no espaço
dá colorido novo ao campo de centeio.
E na delirante fantasia que componho
somos felizes como nunca fomos.

Guaraciaba Perides (2001)




quinta-feira, 12 de julho de 2012

1963 - Um dia...um gato*

Um dia ...um gato
Os limites do real
são tênues e difusos
onde a fronteira do sonho
onde a travessia do acaso.
Um dia...um gato
O ar  se rarefaz
O palco se ilumina
Os sons que se revelam
O circo que alucina.
Um dia...um gato.
Pessoas que circulam
nas cores do desejo,
dos sonhos que inspiram,
do amor, da cólera e do medo.
E tudo que se trama
e tudo que corrói,
na mira do olhar
a verdade que destrói.
Um dia...um gato.
Os fatos são na trama
Os fios do destino,
amarram-se  e se cruzam,
as cores se misturam,
transmutam-se e confudem.
e tudo se revela
no toque de um sino.
Vai o circo em sua estrada
E a magia já não é mais nada.
Um dia...um gato.

Guaraciaba Perides (2012)

Filme realizado em 1963 na Tchecoslováquia. Direção de Vojtech Jasny. Prêmio de Juri no Festival de Cannes.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Poema cantado - Endechas à bárbara escrava (poema de Camões

Endechas  à bárbara escrava- poema de Camões  musicado por zeca Afonso, compositor português.


Aquela cativa que me tem cativo
Porque nela vivo já não quer que viva
Eu nunca vi rosa em suaves molhos
que pera meus olhos fosse mais formosa.
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Nem no campo flores
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
pretos e cansados,
mas não de matar.
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Uma graça viva
Que neles lhe mora,
Para ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
onde o povo vão,
perde opinião
que os louros são belos.
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Pretidão de amor
Tão doce a figura
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão
Que o siso acompanha
bem parece estranha
mas bárbara não.
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Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo.
E pois  nela vivo,
É força que vivo