I- Congresso Internacional do Medo
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
.......In : Antologia Poética de Carlos Drummond de Andrade
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II- Lembrança do mundo Antigo
Clara passeava no jardim com as crianças.
O céu era verde sobre o gramado,
a água era dourada sobre as pontes,
outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados
o guarda- civil sorria, passavam bicicletas,
a menina pisou a relva para pegar um pássaro,
o mundo inteiro, a Alemanha, a China, tudo era tranquilo
em redor de Clara.
As crianças olhavam para o céu: não era proíbido.
A boca, o nariz, os olhos estavam abertos. Não havia perigo.
Os perigos que Clara temia eram a gripe, o calor e os insetos.
Clara tinha medo de perder o bonde das 11 horas,
esperava cartas que custavam a chegar,
nem sempre podia usar vestido novo. Mas passeava no
jardim, pela manhã!!!
Havia jardins, havia manhãs naquele tempo!!!
In: Antologia Poética de
Carlos Drummond de Andrade
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III´ Os Materiais da Vida
Drls? Faço meu amor em vidrotil
nossos coitos serão de modernfold
até que a lança de interflex
vipax nos separe
em clavilux
camabel camabel o vale ecoa
sobre o vazio de ondalit
a noite asfáltica
plkx
In; Antologia Poética de Carlos Drummond de Andrade
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O Tempo flui e com ele a história do mundo...A Poesia entretanto resiste! e por Ela seremos salvos. (G.L.P.)
Olá, Guaraciaba, li com muita satisfação esses belos poemas do Drummond, que você em boa hora brindou-nos, pelo que agradeço a partilha.
ResponderExcluirAplausos para nosso poeta!
Uma ótima semana, amiga.
Um abraço.
Obrigada Pedro! Um prazer compartilhar a poesia quase premonitória de Drummond...uma análise profunda da experiência humana ao longo da história.
ExcluirUm abraço
Marvilha de postagem. Fez-me lembrar os meus medos e ontem e os de hoje. Materiais da vida?? Grande Drummond! Bjs.
ResponderExcluiroi, Marilene, obrigada! a história do mundo se repete e o que foi ontem é hoje na alma humana. e..o poeta Drummond vai fundo na sua análise em que tempos históricos diversos apresentam as mesmas angústias e delicadezas da alma, Materiais da Vida, um feliz achado em que Drummond expõe com maestria o que já se anunciava em um mundo contemporâneo...ironia fina e brilhante do nosso querido Poeta!
ResponderExcluirUm abraço
Bom final de semana minha querida amiga e poetisa Guaraciaba.
ResponderExcluirObrigada Luiz pela gentileza...
ExcluirUm abraço