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domingo, 23 de maio de 2021

ALGUNS HAIKAIS DO POETA GUILHERME DE ALMEIDA

 O   PENSAMENTO

O  ar. A  folha. A  fuga.

No  lago,  um  círculo  vago.

No  rosto , uma  ruga.

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HORA  DE  TER   SAUDADE

Houve  aquele  tempo.

E  agora,  que  a  chuva  chora,

ouve  aquele  tempo!

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CARIDADE

Desfolha-se  a  rosa:

parece  até  que  floresce

o  chão  cor  de  rosa.

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AQUELE   DIA

Borboleta  anil

que  um  louro  alfinete de  ouro

espeta  em  abril.

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SILÊNCIO

Uma  tosse  rouca.

Lã  mole. O "store"  que  bole.

A  noite  opaca  e  oca.

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A  INSÔNIA

Furo  a  terra  fria.

No  fundo,  em  baixo  do  mundo,

trabalha-se;  é  dia.

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MOCIDADE

Do  beiral  da  casa

(ó  telhas  novas,  vermelhas!)

Vai-se  embora  uma  asa)

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HISTÓRIA  DE  ALGUMAS  VIDAS

Noite. Um  silvo  no  ar.

Ninguém  na  estação. E  o  trem

'passa  sem  parar.

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INFÂNCIA

Um  gosto  de  amora

comida  com  sol. A  vida

chamava-se  "Agora"

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LEMBRANÇA

"Confetti".E  um  havia

de se  ir  esconder, e  eu  vir

a  encontrá-lo,  um  dia.

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O  POETA

Caçador  de  estrelas.

Chorou:  seu  olhar  voltou

com  tantas!  Vem  vê-las!

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GAROA

Por  um  mundo  quase

aéreo,  há  um  vago  mistério.

Passa  o  Anjo  de  Gase.

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NÓS  DOIS

Chão  humilde. Então,

riscou-o a  sombra  de  um  vôo.

"Sou  céu!"  disse  o  chão.

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CIGARRO

Olho  a  noite  pela  

vidraça. Um beijo  que  passa,

acende  uma  estrela.

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CONSÔLO

A  noite  chorou

a  bolha  em  que,  sobre  a  folha.

o  sol despertou.

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VELHICE

Uma  folha  morta.

Um  galho  no céu  grisalho.

Fecho  a  minha  porta.

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CHUVA  DE  PRIMAVERA

Vê  como  se  atraem

nos  fios  os  pingos  frios!

E  juntam-se. E  caem.

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MEIO - DIA

Sombras  redondinhas.

Soldados  de  paus  fincados

sobre  rodelinhas.

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NOTURNO

Na  cidade,  a   lua:

a  jóia  branca,  que  bóia

na  lama  da  rua.

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MERCADO  DE  FLORES.

Fios. Alarido.

Assaltos  de  pedra.  Asfaltos.

E  um  lenço  perdido

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N.  W.

Dilaceramentos.

Pois  tem  espinhos  também

a  rosa-dos-ventos.

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O  SONO

Um  corpo  que  é  um  trapo.

Na  cara,  as  pálpebras  claras

são  de  esparadrapo.

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DE  NOITE

Uma  árvore  nua

aponta  o  céu. Numa  ponta

brota  um  fruto. A  lua?

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PASSADO

Esse  olhar  ferido,

tão  contra  a  flor  que  ele  encontra

no  livro  já  lido!

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FILOSOFIA

Lutar ?  Para  que?

De  que  vive  a  rosa?  em  que

pensa?  Faz  o  que ?

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PESCARIA

Cochilo.  Na  linha 

eu  ponho  a  isca  de  um  sonho.

Pesco  uma  estrelinha.

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O  BOÊMIO

Cigarro  apagado

no  canto  da  boca,  enquanto

passa  o  seu  passado

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FESTA  MÓVEL

Nós  dois? - Não  me  lembro.

Quando  era  que  a  primavera

caía  em  setembro?

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ROMANCE

E  cruzam-se  as  linhas  

no  fino  tear  do  destino.

Tuas  mãos  nas  minhas.

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O   HAIKAI

Lava,  escorre,  agita

e  areia. E  enfim,  na  batéia,

fica  uma  pepita

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Guilherme  de   Almeida  (POESIA  VÁRIA  )

Livraria  Martins  Editora-  São  Paulo


A  poesia  em   essência  vislumbra  o  infinito.


2 comentários:

  1. Olá, Guaraciaba, gostei muito dessa sua postagem com os HAIKAIS de Guilherme de Almeida, um dos nomes importantes da nossa literatura.
    Obrigado amiga pela partilha.
    Uma boa semana, com saúde.
    Grande abraço
    Um abraço.

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  2. Socióloga / Poetisa, GUARACIABA PERIDES !
    Quantas verdades, em pequenos/grandes versos,
    ajudando-nos entender a vida, poeticamente...
    Grato pela partilha, Amiga !
    Uma ótima semana, com saúde e alegria !
    Um fraternal abraço.
    Sinval.

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