Amigos

sábado, 25 de abril de 2020

FOME DE POESIA

Hoje ,um  sábado de recolhimento,  senti  fome  de  poesia...
abri  um  livro  de  poemas  de   Manuel  de  Barros e 
deliciei-me  com  o  banquete.
Coloco aqui   poemas  que   me   encantaram.

I  -GORJEIOS

Gorjeio  é  mais bonito  do  que  canto  porque nele
se inclui   a  sedução.
É quando  a pássara está  enamorada  que  ela  gorjeia.
Ela  se  enfeita e  bota  novos  meneios  na  voz.
Seria como  perfumar-se a  moça para  ver  o namorado.
É  por  isso  que as  árvores  ficam  loucas se  estão  gorjeadas.
É por  isso  que  as  árvores  deliram.
Sob  o  efeito  da  sedução  da  pássara as  árvores  deliram.
E  se  orgulham de  terem  sido  escolhidas  para o  concerto.
As  flores  dessas árvores  depois  nascerão mais  perfumadas.

.....................................................................................................

II  - O  AFERIDOR

Tenho um  Aferidor   de  Encantamentos.
A uma  açucena  encantada  no  rosto  de  uma  criança
O  meu Aferidor  deu  nota  dez.
Ao  nomezinho  de Deus no  bico  de  um  sabiá
O  Aferidor  deu  nota  dez.
A  uma  fuga  de  Bach que  vi  nos  olhos  de uma  criatura
O  Aferidor deu  nota  vinte.
Mas a  um  homem  sozinho  no fim  de  uma  estrada
sentado  nas  pedras de  suas  próprias  ruínas
O  meu  Aferidor  deu   DESENCANTO.
( O  Mundo   é  sortido,  Senhor,  como  dizia  meu  pai)

.........................................................................................................


III -O  VENTO

Queria  transformar  o  vento.
Dar  uma  forma  concreta e  apta  a  foto.
Eu  precisava  pelo  menos  de  enxergar  uma  parte  física
do  vento:  uma  costela,  o  olho...
Mas  a  forma  do  vento  me  fugia que  nem  as  formas
de  uma  voz.
Quando  se  disse  que  o  vento  empurrava a  canoa  do
índio  para  o  barranco
Imaginei  um  vento  pintado  de  urucum  a  empurrar a
canoa  do  índio  para o  barranco
Mas  essa  imagem  me  pareceu imprecisa  ainda.
Estava  quase  a  desistir  quando  me  lembrei  do  menino
montado  no  cavalo  do  vento  -  que lera
em  Shakespeare.
Imaginei as  crinas  soltas  do  vento  a disparar pelos
prados  com  o  menino.
Fotografei  aquele  vento  de  crinas  soltas.

MANUEL  DE  BARROS   (in " Poesia  Completa "  de  Manuel  de  Barros-editora  do Grupo  LEYA.


Imagem    Art-  naif    encontrada  em  pesquisa Google

............................................................................................................................... 
Continuei  lendo  e  me    alegrei  com  o  que Mundo  tem  de  bom!


4 comentários:

  1. Manoel de Barros tem uma forma muito própria de encantar, em consonância com a Natureza. Que excelente escolha, Guaraciaba! Uma delícia!

    Deixo-lhe um sorriso :)

    ResponderExcluir
  2. Obrigada A.C. aproveitei a tarde para conhecer melhor a obra de Manuel de Barros e amei o conjunto da obra. Um abraço virtual

    ResponderExcluir
  3. Amiga, Socióloga / Poetisa, Guaraciaba Perides !
    Deve ter sido uma leitura muito agradável.
    Selecionaste poemas que muito me agradam.
    O "Vento", por exemplo, para mim, é a timidez da
    natureza. Manifesta-se, suave ou foremernte, mas
    incorpóreo...
    Parabéns !
    Um fraternal abraço e uma feliz semana.
    Sinval.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Sinval, gostei muito das obras completas...queria muito colocar outras tantas poesias principalmente as que promovem a integração do homem com a natureza e como podemos ser unidos aos seus elementos como um todo.
      Um abraço e obrigada por seu comentário.

      Excluir