A casa em alvoroço!
É a festa que se prepara
feita com muita emoção...
No quintal de terra batida,
entre galos e galinhas..
É levantado um mastro
do santo de devoção.
E depois de muito esforço
desfralda-se uma bandeira...
e nela um menino ,
de cabelo cacheado,
de olhos doces e meigos
traz no colo um carneirinho.
Passeando entre os adultos
a menina se interroga:
- Quem será esse menino ?
Tanta festa, tantos doces,
tantos risos, tanta alegria...
Passavam pessoas de lá para cá...
e lá da sala de dentro,
arrumava-se um altar,
como se da igreja fosse...e
as moças que arrumavam
traziam toalha rendada e
flores em profusão.
A menina nunca vira tanta gente...
e ficava admirada
- O que será? o que seria?
Perguntou à sua mãe o porque
do alvoroço...Sua mãe que também
se encantara, disse-lhe que
era para rezar o terço
em homenagem a São João...
- E quem é o São João?
-É o menino do carneirinho
que você viu na bandeira e
que está lá no quintal.
-E por quem tem tanta festa?
-É que é o dia da festa
do Padroeiro da casa,
pois o dono e seu avô
também se chama João.
Agora, os olhos se abriram!
que alegria, que alegria!
Por isso todos chamavam
o vovô de Seu João!
E a menina olhava da varanda
para a calçada
e viu que bem a sua frente
faziam uma grande fogueira...
Estilhaços e fagulhas
brincavam na escuridão!
Depois da reza comprida
e cumprida a devoção...
Vamos aos comes e bebes
porque os risos correm soltos
-Ei , que lá vem o quentão!
As mulheres na cozinha
junto ao fogão de lenha
preparam já os quitutes...
e sobretudo os doces
que a menina aguardava...
Eram os pés de moleque (?)
doces de leite e broínhas de milho,
bolinhas de amendoim...
e também muita pipoca
que a menina adorava!
Era noite e a lua cheia
brilhava com encantada...
E como estava sozinha
a menina desceu ao jardim
que havia ao lado da casa...
e num pequeno portal
havia uma trepadeira de
lindas flores em penca
e de perfume muito doce...
E a menina fica olhando
-Tudo tão novo e tão bom...
Sua mãe que viera atrás,
porque a menina é pequena...
E a menina perguntou;
-Mamãe, qual é nome dessa flor?
A mãe então respondeu:
-Chama flor de São João.
E a menina de novo admirou-se
- Parece aquela que a senhora canta
quando vai me fazer dormir!
E sai pulando e cantando
"Capelinha de melão...é de São João,
é de cravo, é de rosa , é de manjericão..................
De tudo só resta a lembrança
De uma festa de São João!
A música ecoa ao longe
a lua ainda pode escutá-la.
ficou a saudade infinda
na alma e no coração!
Guaraciaba Perides
Flor de São João
Os tempos verbais se misturam porque o que foi um dia presente e hoje já é passado, mas ,
entretanto, a menina ainda existe e com ela persiste a memória de todos os tempos
Um poema lindo... cheio de tradição... cheio de tempos verbais que se mesclam... a história é um ato contínuo.
ResponderExcluirMinas lembranças de São João são muito fortes. Aqui em Minas Gerais... fazemos ainda, capelinha de melão, com cravo, rosa e manjericão.
Obrigado pela doce evocação de um Santo que traz no colo o carneirinho, símbolo pascal de Cristo!
Nota mil!
Obrigada pelo comentário...de fato, uma das mais antigas memórias no encantamento das festas juninas...Minas é Minas na alma , no sangue e no coração.
ResponderExcluirUm abraço
Olá, Guaraci!
ResponderExcluirTenho encontrado comentários seus nos blogs e os acho bem atilados e muito concretos, motivo que me trouxe até aqui.
Estive lendo alguns poemas seus por aqui, e, de facto, gostei imenso da sua forma de escrever e de colocar a temática. Simples e muito genuína.
Essa menina, de que fala nesse poema, não seria você -rs? São lembranças de infância, que não esquecem mais.
Seu escrito retrata todo o ambiente e sensações vividas, tal como o vivo diálogo entre mãe e filha.
As festas Juninas estão para breve por aí. Aqui, também se celebra o S. João, mas especialmente na cidade do Porto em Portugal. Sto. António é celebrado em Lisboa, da qual é padroeiro. S. Pedro não tem grandes festas.
Se quiser visitar e comentar meu blog será um razer. Obrigada!
Abraços e boa semana.
Oi, Céu. obrigada pela presença e pelo comentário...sim, é um poema de lembranças.
ExcluirEu devia ter uns cinco anos quando visitei meus avós paternos em um cidade do interior de Minas Gerais e foi a primeira vez que assisti uma festa junina.
Foi emocionante fazer parte de uma festa em que tudo era novidade, o São João com o carneirinho, a fogueira, o altar, a reza ,a alegria , a devoção.Ficou na minha memória de forma permanente.Interessante foi perceber que a impressão foi tão individual pois não me lembro de ter brincado com alguma criança ...foi uma vivência
de observação quase sociológica (rs). Alguns detalhes foram poetizados mas os fatos verdadeiros. Eu nasci em São Paulo ,que na época já era uma cidade grande longe dos padrões do interior , então tudo me pareceu fascinante
Até hoje gosto muito dessas festas juninas e o Brasil como um todo também gosta só que agora mais modernizada e folclorizada. No Nordeste o São João é a festa mais importante do ano e no mês de junho todas as outras festas passam para um segundo plano. Vou com muito prazer conhecer o seu blog
Um abraço
Oi, querida Guaraci!
ExcluirNada a agradecer. Eu é que fiquei imensamente feliz com sua visitinha e tão gentis palavras deixadas no meu blog. Obrigada!
Adivinhei, hein! O poema está escrito com tanta força e carinho, que só podia ter sido você essa menininha com perguntas tão inocentes, quanto curiosas.
Vivo em Lisboa há um tempão, mas nasci no sul (Alentejo) de meu país e não tenho muitas lembranças de lá, pois só tinha 2 anos, qdo vim para a capital e as festas, mesmo agora, não são assim tão movimentadas e divertidas, qto as vossas. Vocês são alegres por natureza.
Só posto de mês a mês, porque sou Professora de jovens pré-universitários e o trabalho nesse mês está apertando, como já é costume, aliás, e por isso não sei se vou conseguir postar esse mês, mas não preocupe, que eu passo por cá depois, pois meu blogue não tem Painel de Seguidores, por opção minha. Combinado?
Beijos e se divirta, minha linda, nas Festas Juninas.
Ah, estava esquecendo: não conhecia a Flor de S. João, que está na imagem. É bem linda e colorida. Não sei se ela existe em Portugal ou não.
ResponderExcluirGrande abraço!
Oi, Céu, obrigada pelo retorno. É bom dividir lembranças e vivências e por isso vale
Excluira alegria de viver.No mundo caótico que vivemos uma gentileza adoça a alma sempre.
Um abraço
Agradável leitura, doces memórias inesquecíveis e um aprendizado- A Flor de S. João que eu não conhecia- Fechou o poema grandemente belo com perfeito acabamento, bordando onde tudo começa e vai até o anoitecer; o colo de mãe e suas canções atemporais. A Flor nos remete aos fogos de artifício. Sempre uma explosão de emoções ler você.
ResponderExcluirExplosão de alegria. Belo!!!!
Oi, Lourdinha, obrigada...você que conhece e ama Minas deve conhecer a flor de são João...ela é muito comum em caramanchões nas portas das casas.Eu conhecia desde pequena mas por muito tempo achava que ela era capelinha de melão(rs)...o diálogo sobre o assunto na festa foi licença poética (rs)... mas o resto verdadeiro, inclusive a emoção de ver o menino lindo com o carneirinho no alto do mastro. e tudo mais.
ExcluirUm abraço
Socióloga/Poetisa, Guaraciaba Perides !
ResponderExcluirTransportei-me à infância... meu coração recusou-se
retornar à realidade.
Que saudade !
Obrigado, Amiga !
Belíssimo texto.
Um fraternal abraço e um ótimo final de semana !
Sinval
Oi, Sinval, obrigada...quanto mais antigo mais nítido na memória; o tempo tem essa qualidade de deixar mais presente o passado das primeiras lembranças.
ResponderExcluirUm abraço
Oi Guaraciaba!
ResponderExcluirQue coisa linda amiga, me fizeste viajar ao meu tempo de infância quando festejávamos "São João" assim como narras em teu texto. Era uma festa linda, com as guloseimas que falas pois aqui no Sul festejamos muito também esta data mas hoje em dia de forma diferente, temos os "CTG"(s) Centros de Tradições Gaúchas nos quais as comemorações acontecem. Só que, quando criança, as comemorações eram com esta simplicidade, famílias de vizinhos e parentes que se uniam para festejar São João. Foi disso que me de saudades.
Um grande abraço amiga.
Oi, Zilani, obrigada! saudades também eu tenho ...eram outros tempos . Hoje a festa é feita como folclore para ser 'festa' de massa, sem significado religioso ou ainda nas quermesses de igrejas ainda encontramos algum.De qualquer forma é bom preservar um pouco das raízes do nosso Brasil.
ResponderExcluirUm abraço
Boa tarde, Guaraciaba.
ResponderExcluirGostei muito deste seu poema, que fala um pouco de cada um de nós,
de nossas vivências, nossa cultura. Parabéns, minha amiga poetisa!
Um bom final de tarde, Guaraciaba.
Um abraço.
Pedro
Oi Pedro, obrigada...são tão boas lembranças que valem a nossa infância e que fazem parte da nossa identidade como nação...em todos os recantos e em todos os sotaques festejamos os fundamentos de nossas origens .
ExcluirUm abraço