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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Dia do Professor (histórias que a vida conta)

Muitas histórias me foram contadas ao longo de minha vida profissional.
Algumas ficaram marcadas  como símbolos de experiências marcantes do trabalho do magistério ,mais do que de trabalho pedagógico, mas mais como vivência humana da profissão.Aqui estão duas histórias.

Arroz e Alface:

Uma jovem professora me contou,lá no Vale do Ribeira,que havia sido professora em classe de emergência,no meio rural, no início de sua carreira.Passava a semana no sítio na casa de um dos alunos e somente ia para casa nos fins de semana.
Era uma família muito pobre que vivia de produtos de subsistência menos do que básica. No início da semana quando  voltava para a escola trazia alimentos para o seu sustento,frutas, biscoitos,enlatados, biscoitos e como era quase uma menina também doces, chocolates etc. 
Ao chegar na casa era-lhe impossível fazer sua refeição em particular diante dos olhos extasiados das crianças. Distribuía e em dois dias já haviam consumido tudo. No resto da semana eles (inclusive ela) comiam, no almoço e no jantar, arroz e alface. E foi assim todo o tempo em que ela lá permaneceu. Disse-me ela que chorava, depois que se removeu para outro lugar,ao lembrar daquelas crianças que esperavam ansiosas por sua chegada todas as segundas feiras.
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Amassando barro:

Depois da alguns anos, como Diretora de uma escola de periferia, aqui em São Paulo, ouvi de uma professora, já prestes a se aposentar ,a memória de um fato que me encantou pela singeleza e beleza. Contou-me que ao iniciar sua atividade de professora,foi designada para uma classe no meio rural de uma localidade distante.Naquela época por causa da dificuldade de locomoção, as professoras viviam dentro da própria escola,(em geral nos  sítios)onde havia uma cama, um armário, um fogão, uma  cadeira e uma bandeira.
A professora passava todo o seu tempo ali e só se ausentava nas férias. Ali ela administrava  lecionava, ensinava hábitos de higiene e orientava os pais quando precisavam de documentos e como deveriam fazer para consegui-los.Fazia a merenda escolar e vistoriava cabelos e unhas dos alunos.Supervisionava atitudes...
Nos feriados cívicos,reunia a turma no chão batido à frente da escola e hasteava a bandeira, cantando com os alunos o Hino Nacional.
-Bem, disse-me ela, num dia de Sete de Setembro, um Supervisor de Ensino, que na época tinha por função visitar essas "salas avançadas" do meio rural, chegou  de repente, emocionado contou-lhe que não esperava encontrá-la reunida com seus alunos, em comemoração...mas , que ouvira ao longe, o canto das crianças, ecoando através da mata que cobria a região, fato que o fez ir até lá verificar.
Esta mesma professora...passados quase trinta anos, esperava sua aposentadoria integral que finalmente chegou. Ao sair, na despedida, ela me disse: Como é a vida!Estou acabando minha missão do mesmo jeito que comecei.Amassando barro!
De fato, a "nossa escola" era numa rua sem calçamento aguardando ainda pavimentação de rua. 

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Guaraciaba Perides (2012)





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6 comentários:

  1. OI GUARACIABA!
    EM PRIMEIRO LUGAR, PARABÉNS POR ESTE DIA QUE DEVERIA SER DE GRANDES FESTEJOS PARA REVERENCIAR AOS MESTRES, VERDADEIROS HERÓIS,QUE LUTAM, SOLITÁRIOS, NUM PAÍS QUE SE FAZ DE SURDO FRENTE ÁS SUAS JUSTAS REIVINDICAÇÕES.
    QUE HISTÓRIAS LINDAS E DEVES TER MUITAS OUTRAS PARA CONTAR.
    ABRÇS
    zilanicelia.blogspot.com.br/
    Click AQUI

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  2. Temos que reconhecer o mérito desses sonhadores e sonhadoras que abdicam tanto de sua própria vida para que outras vidas se ponham a caminho da realização...Parabéns a todos os Mestres!

    Bíndi e Ghost

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  3. Guaraciaba, que belas histórias de professores! Os nossos professores, em particular os primeiros, os do início da nossa escolaridade, são tão importantes como guias. Eles acendem a luz do caminho da nossa educação futura. As duas histórias que partilhou connosco são as de pessoas dedicadas que não gostam só da profissão que escolheram, mas que também têm prazer em estar em contacto permanente com as crianças, que as amam. Escolheram uma profissão difícil e muito pouco reconhecida e são dignas de respeito e admiração!

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  4. 'Guará-minha-Ciaba' rs

    Sabe que esses 'causos' que a vida conta, a gente nem de longe consegue sentir a veracidade que quem viveu sentiu... mas que sentiu, sentiu!

    bjsMeus
    Catita

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    1. Cátia, minhA CATITA (rs) Contei exatamente como me foi contado...
      a primeira, de uma professora que iniciara como professora primária no meio rural e depois se formou em matemática, (ano de 1980). a segunda já era uma senhora que aguardava aposentadoria - jardim vila Formosa (por volta de 1986) Naqueles idos realmente a situação do meio rural era assim e penso que em algumas regiões do Brasil ainda persistam essas dificuldades...mas os alunos respeitavam os professores e o trabalho era gratificante.Que pena! Um abraço Catita.

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  5. Belas histórias, as dessas duas mestras. Conheço bem a realidade rural daqui do Nordeste, com muitas histórias semelhantes.
    E por falar em professora, nestes últimos dias eu estava a tratar da minha terceira e última aposentadoria, esta, compulsoriamente...No dia 15, não vim aqui, no dia 16, completei 70 anos, ontem e hoje, fiquei por conta da papelada, da burocracia do serviço público( no caso do setor educacional). Só hoje à tardinha, senti-me aposentada. Mas,não me arrependo de nada, foi muito bom, enquanto durou a lida do magistério.
    Parabéns, Professora Guaraciaba. Um forte abraço,da Lúcia.

    P.S. Peço-lhe que vá ao Cadeirinha de Arruar, para se inteirar de um desafio que fiz a 5 blogues, dentre os quais Sonhos e Reflexões.
    Sinta-se à vontade para aceitar ou não o tal DESAFIO.
    Obrigada, amiga, outro abraço!

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