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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Raízes Coloniais


Tarde no passeio público
Desfilam senhorinhas em pelicas,
cuidando de seus trajes em seda
e de suas tranças negras.
São pálidas como convém
às donzelas bem nascidas,
levam sombrinhas rendadas
que lhes ornam os rostos,
delicadas flores européias
no calor dos trópicos...
O que sonham? Mistério.

Passam ao largo escravos semi-nus
carregando fardos e tonéis.
Mulheres negras em algodão grosseiro.
branco encardido, vermelho descorado,
cuidam da lida da compra de alimentos...
Seus dentes brilham ao sol, bem como,
a pele de cujo suor escorre,
dando lustro à pele escura...
Alguns cantam músicas
em outras línguas,
outros gargalham no riso debochado.
O que dizem? Mistério

Soldados cuidam da ordem pública
montados em cavalos imponentes que
Passam pisando duro nas pedras das calçadas.
Do alto de suas montarias olham com desprezo
a escravaria,
e nem ousam olhar as donzelas do passeio...
O que pensam? Mistério

Bimbalham os sinos das Igrejas
anunciando horas,
passa o ministro de Deus,olhos vazios,pensamento oculto.
Correm crianças para beijar-lhe a mão, que distraído
vai lançando bençãos...
O que sente? Mistério

À porta das bodegas cheirando à cachaça
homens do povo vão dizendo graças
à mulher que passa...
À porta dos salões mais finos
homens de classe lançam cobiças
às donzelinhas puras
que entre sussurros contabilizam castas
à espera de maridos que lhes deem
as graças,de continuar em sedas,
perpetuando a raça...
O que esperam? Mistério.

Guaraciaba (2009)

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