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sexta-feira, 16 de julho de 2010

Alma, sonho, poesia - Fernanda de Castro

(in Rev. Ocidente - n. 166 - Fev. 1952 - Lisboa - p. 50)

Entrei na vida
com armas de vencida:
quando eu cantava
o mundo ria
mas nada me importava:
cantava.
Depois, um dia,
o mundo atirou pedras ao meu canto
e a minha alma rasgou-se.
Que seria?
Medo, espanto,
revolta ou simplesmente dor?
Fosse o que fosse,
o orgulho foi maior
com dez punhais nas unhas afiadas
e nos olhos azuis duas espadas,
eu nunca mais seria, nunca mais,
a que entrara na vida
com armas de vencida.
Agora o meu querer era mais fundo:
de um lado, eu, do outro o mundo.
E começou a luta desigual
do tigre e da gazela.
A vencida foi ela.
Mas que louros colheu dessa vitória
o mundo cego e bruto?
O sangue dos poetas ? Triste glória ...
Cinza de sonhos mortos ? Magro fruto ...
Oh, não, punhais e espadas !
Eu só quero cantar ! Não quero ossadas
nem, sob os pés, um chão de campas rasas.
Eu só quero cantar ! Só quero as minhas asas
e a minha melodia:
Alma, Sonho e Poesia ...
Alma, Sonho e Poesia ...

Fernanda de Castro

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