Amigos

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

' DÉJÀ VU'

Encontrava-se  só
Seus olhos  alongavam-se espreitando
as sombras  das  paredes.
Lá  fora  o céu de nuvens cinzas
molhava  o  chão  com  suas lágrimas.
Uma emoção estranha apertou-lhe  o peito...
os  ouvidos  atentos aos  ruídos
que estalavam  nos móveis velhos carcomidos.
Pensou no quanto a  casa já vira  e  ouvira...
tantas  histórias, amores  e dores,
impregnados  pelo tempo  que  passara.
Em  sua  mente  procurou  vestígios
de  um  passado  oculto...um indício,
talvez, uma  presença.
Somente  sombras  nas paredes.
Um vento  soprou  forte e  abriu as
janelas bruscamente e numa nesga
de céu atrás  das  nuvens,
a lua  espreitava  friamente...
Como  um fantasma  entre  os antigos,
ele era, agora, alguém  que  ninguém vira.
Voltou-se  para  a sacada e sentiu 
o  perfume  dos  jardins  floridos...
Olhou  a  cena   como  adormecido.
Sua  presença  era nada.
Veio-lhe  à  mente  um  pensamento;
Tudo  que  houvera  e  qualquer  coisa
que  tivesse  acontecido...amores, desafetos,
lágrimas  e risos...somente
sombras  e  nada  mais.
Foi  só  um  instante,  sentiu  um  arrepio
e uma  vertigem   como  se desmaiasse...
O  casarão  em  ruínas  voltara  ao  seu  presente.
..................................................................................
E se  não  for  mistério?
E  se não  dor  segredo?
E  se  tudo  que  acontece
ocorre  ao  mesmo  tempo?
..................................................................................

Do  que se  viu...
Do  que  se  ouviu...
Do que foi  dito...
Auroras,
gigantescas  flores  e arrebóis....
Árvores  e  flores  de  cetim
E  borboletas  levam  em suas  asas
o  Arco-Íris...


Guaraciaba  Perides
                                   Flores  de Resedá  (imagem da internet)


15 comentários:

  1. Eu acredito que tenha sido uma volta ao passado.
    Lindo texto Guaraciaba.
    Bjs-Carmen Lúcia.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Carmen, obrigada pela sensível leitura...é verdade, muitas vezes já me ocorreu a sensação de déjà vu... conheço bem o estranhamento como se fosse lembrança.
      Um abraço

      Excluir
  2. Querida Socióloga/Poetisa, Guaraciaba Perides !
    Todos temos sombras que nos inquietam, afagam e,
    até, nos assustam...
    O texto, lindo, descreve muito bem estas situações.
    Parabéns, Amiga !
    Um ótimo final de semana e um fraternal abraço.
    Sinval.

    ResponderExcluir
  3. Oi, Sinval, obrigada pelo comentário...casas antigas sempre trazem impregnadas as lembranças das pessoas e suas emoções e até dos sons ... quantas histórias!
    Um abraço

    ResponderExcluir
  4. OI GUARACIABA!
    SOBERBA TUA CONSTRUÇÃO. APENAS UM MOMENTO, NO QUAL O PASSADO E O PRESENTE SE CONFUNDEM.
    ABRÇS
    https://zilanicelia.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  5. Oi, Zilani, obrigada pelo comentário... quem sabe o que se passa nas dobras do tempo ou nas dobras da mente...
    Um abraço

    ResponderExcluir
  6. Me vi em suas palavras... Tal qual
    você descreveu e me apertou cá o coração.

    Agradeço pelo prazer de estar aqui.

    ResponderExcluir
  7. Oi, Ronilda, de fato é uma experiência impactante...mas sei que pode acontecer.
    Obrigada pelo comentário.
    Um abraço

    ResponderExcluir
  8. Oi querida amiga, interessante que ainda nessa semana eu e meu filho mais velho, comentávamos sobre lembranças passadas, ele que voltou ao local da antiga casa onde morávamos e passou parte de sua infância. A casa já não existe mais. Eu porque assisti a um documentário sobre a construção de Brasília até a sua inauguração.Momentos da minha infância que também fez parte do assunto que nos fez sentir essa sensação estranha, um misto de tristeza,alegria que damos o nome de saudade . Fosse uma infância difícil ou não a lembrança era de uma coisa boa por se tratar da infância. Mas as lembranças,também como você citou são"somente sombras e nada mais". E realidade nos chama... Porém meu filho chegou a chorar ao relembrar as brincadeiras, com avós paternos que na época moravam com a gente, as paredes e cada cômodo. As árvores continuam lá, marcando sua presença o que é um presente para nós em qualquer lugar do passado ou futuro.
    Você como sempre muto inspirada e talentosa, sabe tocar nossos corações. Adorei . Um abraço.

    ResponderExcluir
  9. E para concluir no meu caso e do meu filho não foi apenas um ' " DejaVu".As lembranças eram reais.

    ResponderExcluir
  10. OI, Lourdinha... lindo o seu comentário...um viés do déjà vu baseado no real de uma memória mais
    recente mas já história incorporada na memória...fica solidificada e estática, perene mais do que nunca, porque verdadeira dentro da alma, a casa não existe mais? agora ela está lá para sempre no mundo das idéias e pode ser acessada sempre que a saudade bater.
    Um abraço

    ResponderExcluir
  11. Boa noite Guaraciaba! Como poderemos saber quantos universos paralelos abrem-se a cada ação ou pensamento nosso...de nosso cantinho neste planeta sabemos ainda tão pouco sobre o macro e o microcosmo, e nossa mente talvez nem suportaria tamanho conhecimento, em sua limitação. Mas mesmo assim conseguimos entrever nesgas da luz da vida por alguns momentos.
    Um abração!

    ResponderExcluir
  12. Oi,Ghost e Bindi...obrigada pelo comentário...acho tão fantástica a realidade do ser que apenas vislumbrar as múltiplas possibilidades me deixam encantada...apenas engatinhamos e fico pensando que se a humanidade conseguir sobreviver ela virá a conhecer um admirável mundo novo
    Um abraço

    ResponderExcluir
  13. Olá, Guaraciaba!
    Gostei muito do seu poema.
    Senti-me vendo aquela parede de sombra,
    a janela aberta por um sopro de vento na noite,
    a lua mostrando-se um pouco,
    quase furtiva. Parabéns, minha amiga poetisa.
    Uma ótima semana.
    Um abraço.
    Pedro

    ResponderExcluir
  14. Oi Pedro, há sempre uma casa antiga com tantas memórias, cheias de histórias, palavras e sonhos... acho que elas incorporam as almas das pessoas que lá viveram num sentimento de
    pertencimento.
    Um abraço

    ResponderExcluir