Aquela que brilha sozinha
no meio da noite
Aquela, que nem fria e distante
fulgura na vida
Percorre os veios sutis
do pensamento oculto
E canta uma canção
nos meus ouvidos...
Olvidos?
Aquela que me inspira
palavras de repente
e me sugere sonhos ainda
mais febris
A Estrela que brilha sozinha
no imenso da Alma,
é que me traz a calma
é a que me traz a Paz
E é a que me faz Feliz!
Guaraciaba Perides
LLAMA DE AMOR VIVA canto místico de S. Juan de la Cruz
A música executada e cantada por Amancio Prada
PÁSCOA...
PAZ QUE A TERRA PRECISA
AMOR QUE A GRAÇA SEMEIA
SALVAÇÃO QUE O HOMEM ALMEJA...
CRISTO RESSUSCITADO!
ONDE SE CRÊ COM CERTEZA...
ALELUIA! ALELUIA!
Não sei falar de alma e coração abertos
Não sei sorrir o sorriso dos simples
Não sei "pular o muro para ver o sol"...
Não sei dormir o sono dos justos
Não sei dizer palavras abstratas
e nunca entendo as entrelinhas...
Meu canto é desafinado
Meu dançar desajeitado
e nunca faço manobras radicais...
Só sei fabricar sonhos pela vida
e olhar com olhos espantados
a mágica da flor, a luz da lua,
o riso da criança, o mar aberto,
o brilho das estrelas, o sol nascente,
o leite, o mel e o pão,
cavalo que galopa e ventania,
a tempestade, o raio e o trovão...
E de repente a paz...e
no leve fluir das ondas,
o leve pulsar do coração...
Os animais foram
imperfeitos,
comprido de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça, vôo.
O gato
só o gato,
apareceu completo e orgulhoso;
nasceu completamente terminado
caminha só e sabe o que quer.
O homem quer ser peixe e pássaro.
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha.
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser somente gato
e todo gato é gato
do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até os seus olhos de ouro.
Não há unidade
como ele,
não tem a lua nem a flor
tal contextura:
é uma coisa só
como o sol ou o topázio,
e a elástica linha em seu contorno
firme e sutil é como
a linha da proa de uma nave.
Seus olhos amarelos
deixaram uma só
ranhura
para jogar as moedas da noite.
Oh pequeno imperador sem pátria,
mínimo tigre de salão, nupcial
sultão do céu
das telhas eróticas,
o vento do amor
na intempérie reclamas
quando passas
e pousas quatro pés delicados
no solo,
cheirando,
desconfiando
de todo o terrestre
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do gato.
Oh fera independente
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico
e alheio,
profundíssimo gato,
polícia secreta
dos quartos,
insígnia
de um desaparecido veludo,
certamente não há
enigma
na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo mundo sabe de ti e pertences
ao habitante menos misterioso,
talvez todos acreditam,
todos se acreditem, donos,
proprietários, tios,
de gatos, companheiros,
colegas,
discípulos,ou amigos
de seu gato.
Eu não.
Eu não subscrevo.
eu não conheço o gato.
Tudo sei, a vida e seu arquipélago,
o mar e a cidade incalculável,
a botânica,
o gineceu com seus extravios,
e o por e o menos da matemática,
os funis vulcânicos do mundo,
a casca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
Minha razão resvalou em sua indiferença,
seus olhos têm números de ouro.
Pablo Neruda ( Antologia Poética) -tradução de Eliane Zagury)
O Gato azul de Aldemir Martins
a música Negro Gato na interpretação de Marisa Monte
Todos nós temos em nossa memória ...um gato de infância que corrobora o poema de Neruda.