O que pensa a mulher do leque?
Por que seus olhos se perdem no infinito?
O que percebe dentro de si...
e que quase se encontra em labirinto?
No entanto, segue segurando o leque
que parado no espaço,
faz voar tão longe o seu pensamento...
Ou será apenas o leque um adereço? (G.P)
pintura de Augusto Marcke
A solidão...
Passeia pelas veredas do meus pensamentos
Sou uma delas,
das moças que passeiam de chapéus
com flores e fitas,
e que ensimesmadas passam
trancando sonhos em seus corações... (G L)
.pintura de Di Cavalcanti
Temos o silêncio
Um piano posto em sossego
A menina perdida em seus pensamentos
aninha um gato ao colo
Penumbra... lá fora,
a luz ou o vento... (GL)
escultura em imagem obtida da Internet
Sentado, olhos pesquisam o infinito...
Há o silêncio das coisas inflexíveis
que permanecem em meio ao caos.
Estátuas de pedra
e isso, é só um momento breve...(GL)
TECITURA
São fios de algodão,
fios de lã...
algum ouro, alguma prata
na trama delicada que se tece...
ao longo do caminho.
Entremeando flores
e sugerindo espaços...
de nós em nós que alteando planos
vão as mãos do Tempo trabalhando.
Artesãs da Vida
vão compondo histórias,
repetindo ciclos,
alternados ciclos,
ciclos alternados...
Fios de ouro
na trama que se borda
~~~~fios de ouro,
cruzam-se e se afastam
Perdem-se e se reencontram
traçando paisagens, de formas
e de flores
que à luz de algures
cintilam no espaço.
Circulam e se ligam e
de novo se encontram
cumprindo passagens.
Atando os nós, em retas e viés...
No fundo se perdem
em tons que se esfumam
deixando a lembrança
de um vago momento...
I Do ensaio produzido por Renato Janine Ribeiro " OS AMANTES CONTRA O PODER"
extraí para guardar um texto que fala sobre olhares de amor que se cruzam.
........................
" E com isso voltamos aos olhares do amor que se cruzam.O que há nesse encontro
dos olhos, no coup de foudre mútuo? Há que, neles, cada um vê o ver.
Olhar , no amor, tem dois poderes. O olhar captura, extrai; é voyer, arranca prazer do
objeto que ele devassa; e por isso os índios não gostam de ser fotografados, temendo
perder a alma. É o que acontece quando alguém nos impressiona, desde a foto do nu,
até a pessoa por quem nos apaixonamos. Na primeira vista, o apaixonado sofre uma
'perturbação terrível', nunca sentida. Não sabe falar, age mal. Só diz bobagens, ou nada.
Mas extrai.
O segundo poder do olhar é que ele revela, entrega, dá. Pelos olhos o sentimento circula,
ao bom entendedor, que nem sempre é o destinatário. Há congestionamento nessa troca
de sinais: vezes em que não sei qual a reação da amada - porque um olho que se deslumbra ( cega-se) e além disso declara o seu amor, como poderá ainda decifrar o
outro? Mas há , nisso, grande beleza. É a de ver ver. Olhar o olhar da amada é das coisas
mais belas que existem. É a rara reciprocidade do amor, e não é por acaso que nela, nos
momentos raríssimos em que conseguimos escapar a nossos medos e viver um encontro
sem tirania, o coup de foudre a dois nos dá uma lição de entrega e não poder"
retirado do livro O OLHAR editado pela Companhia das Letras -1988
coletânea de textos produzidos para o Ciclo de Conferências coordenado pela equipe
do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Fundação Nacional de Arte.
Eu conheci você ou foi só seu reflexo?
Seu sorriso existiu ou foi só uma imagem
de alguém, que quis pela vida afora,
brincar de esconder em um mundo de espelhos?
e num jogo de cena, sem hora e sem nexo
criar em um sonho cifrada mensagem...