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sábado, 28 de abril de 2018

A SEDUÇÃO

Coloquem seus pés num  'templo cintilante'
construído em espelhos e cristais
E maravilhas adentram por seus olhos...
E a alma fascinada pede mais...
Mulheres elegantes e bem vestidas,
bonecas imóveis nas vitrines,
olhos opacos.
Você olha e sua alma pede mais...
Joias que cintilam como estrelas
de altos valores, nebulosos.
Belezas em ouro, prata e diamantes...
há um pouco de miséria, sim,
mas não aqui.
Há  brilho no piso que reflete
o dourado das folhas de festim...
O povo caminha alucinado,
criança ao colo veste sonho colorido;
Há doces e sorvetes,cafés e
bolos confeitados...
Há o ar  'blasé' dos convidados,
olham de cima para tanta oferta de delícias,
como se tudo fosse natural.
As moças atendentes adquirem o ar
de desdém da maioria,
de cima abaixo  atestam os clientes
cumprindo seu papel - Sacerdotisas.
A bocarra do deus a que se destina,
mostra seus dentes de marfim,
alimentando-se do orgulho dos incautos
na orgia do consumo obstinado.
Há muito brilho sim, na fantasia do poder,
que se alimenta de se querer sempre
o que é mais...
e o Ego inflado do desejo engole em seco,
consulta o deus dinheiro que  camufla,
em ofertas reluzentes de cartões
que possibilitam o direito da posse e do querer.
Há salas requintadas e sofás macios
nas últimas glórias do cinema,
há crianças que correm e brincam
em risadas; há gritos  roucos
perdidos no rumo de seus ecos...
....................................................................
O templo se desfaz às horas mortas...
Luzes se apagam como num grande circo.
Os funcionários, faces cansadas e em desalinho,
saem pela porta de serviço.
As pessoas que antes circulavam
pelas escadas rolantes do palácio,
já saíram... cumpriram o seu papel
da apatia de ser , apenas, objeto do mercado,
que afinal nutre a volúpia do templo que oprime
e enche de culpa o povo que se enforca...
Você olha e sente
que a sua  alma pede mais...

Guaraciaba Perides.



12 comentários:

  1. Olá Guaraciaba,bem reflexivo o seu poema!
    Falar em sedução é um pouco difícil,mas você escreveu com detalhes para pensarmos o que possa ser uma sedução!
    Adorei.
    Bjs e obrigada pela visita.
    Carmen Lúcia.

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    1. Oi, Carmen...quem não gosta de um shopping center principalmente daqueles mais luxuosos...mas na verdade é um elemento de sedução capitalista que leva ao consumo desenfreado, criando uma realidade de poder imaginário, de sempre se querer mais, o a marca mais famosa, o último brinquedo mais curtido , as crianças passam a viverem função do ter e não do ser e também muitos adultos são seduzidos pelas facilidades do crediário e metaforicamente se enforcam em dívidas.
      Um abraço

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  2. Bom dia querida amiga, que descreveu com poética beleza a sedução de Maya...há séculos ela encanta os encarnados, das maneiras próprias a cada época, mas sempre oferecendo o prazer imediato e fútil, a inconsciência de si próprio e seus problemas íntimos a resolver. Mas mesmo os mais cegos seduzidos ainda têm em si a Centelha divina que, discreta mas imperiosamente, pede mais. Feliz de quem, finalmente, ouve este apelo e segue o seu guia interior no caminho nada fácil da libertação das ilusões terrenas...
    Um grande abraço
    Bíndi e Ghost

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    1. Oi,Ghost e Bindi, belíssimo comentário em função das ilusões de Maya, que se revelam no final em nada...quanto mais seduzidos mais nos revelamos vazios e perdemos a grande oportunidade de crescermos em experiências espirituais. Este texto faz referência ao mercado capitalista que devora todas as oportunidades de um aprimoramento do ser mais profundo quando incentiva ao consumo desenfreado de coisas completamente inúteis.O" deus" do consumo e do dinheiro é o Mamom citado na bíblia por Cristo , quando e refere a escravidão da ganância pelos bens materiais.
      Um abraço

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  3. Querida Socióloga/Poetisa, Guaraciaba Perides !
    Não há limites no processo da sedução.
    Vale para o mercado, também.
    Fiquei perdido na essência do texto, em razão dos
    "sedutores" caminhos descritos por ti.
    Ora parecendo mostrar a luxúria, ora um templo...
    Belíssimo texto, querida Escritora.
    Parabéns e uma ótima semana !
    Sinval.

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    1. Oi, Sinval, um texto tipicamente Paulistano onde a praia do povo é o shopping center e suas fantasias...você que tem o privilégio de viver numa terra de belezas naturais e pode estar distante desta minha crítica social...que são principalmente educacionais.Onde levar uma criança onde ela possa usufruir a companhia dos pais em um lugar aprazível e que não dependa de valores materiais e sim de experiências significativas que serão lembranças e sentimentos.
      Um abraço

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  4. este teu belo poema, Guaraciaba, transcrevo estes versos:

    "Você olha e sua alma pede mais...
    Joias que cintilam como estrelas
    de altos valores, nebulosos."


    Parabéns poetisa.
    Um abraço.
    Pedro

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  5. Obrigada Pedro pela visita e comentário...Acima dos valores materiais A alma sempre busca outros valores, os espirituais que saciam o nosso desejo de paz.

    Um abraço

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  6. Querida e brilhante poeta. Viver para consumir parece resumir muitos verbos em um só, o "Querer" e por que quero, eu sonho, me encanto, me desespero, me alegro, me entristeço,me recomponho, me compadeço, obedeço, me arrependo, choro, me consolo, mas não me conformo, economizo,perco o juízo e me sufoco de consumismo.
    Que maravilhoso o seu poema!
    "O templo se desfaz às horas mortas" "As pessoas que antes circulavam pelas
    escadas rolantes do palácio,
    saíram... cumpriram o seu papel
    da apatia de ser , apenas, objeto do mercado"
    Quantos se tornam vítimas desse mal desenfreado, causador de ansiedade que por si traz outros males. Seduzidos pelo brilho fugaz de emoções fúteis.Um abraço. Parabéns.

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  7. Oi, Lourdinha...o consumo desenfreado e o desejo de ter sempre o mais moderno ,a marca mais badalada atinge todos, prejudica sobretudo as crianças que competem nas escolas pelo tênis da moda,pela marca da roupa e agora o celular do ano...corrói a sociedade no seu cerne e acredito que pode ser um dos motivos do esgarçamento social com todas as suas mazelas...
    No final é tudo descartável e o que fica na memória é um momento, um sentimento, uma lembrança de felicidade que não dependeu de luxo e riqueza...uma boa conversa, uma refeição familiar festiva, os amigos de longa duração que acompanham nossas vidas e confidências.
    Um abraço

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  8. Oi, querida Socióloga/Poetisa, Guaraciaba Perides !
    Armadilhas, no campo do comércio, são montadas para
    apreensão dos compradores por impulsos, por necessidades
    e, até, para os "esquizofrênicos compulsivos".
    Faz parte do jogo...
    Lindo texto. Brilhante !
    Parabéns !
    Sinval.

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    1. Oi, Sinval, é verdade; é só observar a fome do mercado naquilo que se costuma chamar de capitalismo selvagem.
      Um abraço

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