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sábado, 29 de novembro de 2014

CHUVA.

Choveu esta manhã
Choveu aos borbotões
As nuvens carregadas prometiam
muita água, muita água...
que enfim desabou.
Entre raios e trovões, elas (as águas)
romperam diques, jorraram em fontes,
pelas ravinas, sulcando a terra
escalavrada, que encharcada 
se derretia...
E toda  a lama dos desafetos
correu p'ros becos e pelas frestas,
escorrendo em fios de água pura.
Então já livres de todo o pó,
de toda fuligem acumulada,
foi mansamente se desfazendo
em gotas livres pelas janelas
e uma à outra se unificando...
até que enfim evaporaram-se
à luz do sol de um céu sem nuvens.
Por ora, a paz.

Guaraciaba Perides


Dançando na chuva: um clássico  americano
                                        

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Que maravilha...com Jorge Benjor

Agora, só alegria... Paz e Amor!

domingo, 23 de novembro de 2014

HISTÓRIA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA - Parte VI

ANOS 30/  40 / 50...A ERA do RÁDIO

A década de 30 foi também a época de ouro da música de Carnaval.
Foi também durante esse período que o samba e a marcha  rancho alcançaram
sua forma plenamente amadurecida Compositores de grande importância, tais como,
Lamartine Babo, Noel Rosa, Ari Barroso  e outros criaram músicas que se tornaram
clássicos da MPB.   "TAÍ" de Joubert de Carvalho -1930,  "TEU CABELO NÃO  NEGA"
de Lamartine Babo  e Irmãos Valença- 1932, "FITA AMARELA" de Noel Rosa -1933.
"PIERROT APAIXONADO" de Noel Rosa e Heitor dos Prazeres -1936, "YES, NÓS
TEMOS BANANAS" de João de Barros e Alberto Ribeiro - 1938 ," CAMISA LISTADA"
de Assis Valente- 1938, "PASTORINHAS" de  João de Barros e Noel Rosa -1938,
"A JARDINEIRA" de Benedito Lacerda e Humberto Porto -1939, "ATIRE A PRIMEIRA
PEDRA" de Ataulfo Alves e Mário lago-1944, entre outras tantas inesquecíveis.

Ao longo dos anos 30 o Carnaval carioca foi tomando a forma de carnaval espetáculo
Para o governo de Getúlio Vargas as escolas de samba tornaram-se canal de comunicação 
do Estado com as classes mais populares. Até 1933, o carnaval das classes baixas era
controlado pela polícia que não autorizava que as escolas de samba realizassem seus desfiles.
O governo Vargas generalizando o intervencionismo estatal promoveu o que a cronista 
Eneida da Costa Morais chamou de "alegria dirigida". Foram criados departamentos de
Turismo nos Estados que passaram a ter um papel mais importante na organização do carnaval.
Em 1933, segundo Eneida, surgiu definitivamente  no Rio de Janeiro o carnaval oficializado.
A  prefeitura traçava os programas dos festejos que iam desde a batalha de confete nas ruas
aos banhos mar à fantasia, desfile de ranchos, blocos e grandes sociedades,corsos e bailes.
Foi nesse momento que foi criado o Baile do Municipal para a alta sociedade.  Assim era
também o Carnaval de Recife , Salvador, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, etc.

Para ilustrar o período; um documentário de Pierre Verger sobre o carnaval dos anos 40

em várias regiões do  Brasil e vários gêneros  musicais.



CARNAVAL DE RUA  EM ÉPOCAS  ANTIGAS...




 A Festa continua...

sábado, 15 de novembro de 2014

UM SONHO SONHADO

                       


                                   Promenade            Marc   Chagall                



UM  SONHO   SONHADO

No sonho dancei  e dancei
No sonho bisbilhotei
No sonho não tenho idade
Somente a que me convém
Transponho o espaço e corro
E quando canso vôo
Pois tenho asas nos sonhos meus...
Enfrento  feras que não me atacam
E se me atacam não me detém
Em caso extremo de desafio
Mudo a paisagem...corro para o mar.

Falo outras línguas sem embaraço
Tantos carinhos, tantos abraços
Tantos caminhos a palmilhar...
Se entretanto, nos labirintos
Correndo o risco de me perder
Entre as surpresas de um sonho mau!
Uso recursos não tão sutis..
Abordo o perigo, sem medo,
Ponho fogo no leão e fujo de bicicleta,
e na fuga , por um triz
Atravesso os muros d'alma
Dou um salto no escuro
E já me sentindo seguro
Acordo!
Guaraciaba Perides

Imagens oníricas de Salvador Dali


                                                                   

Sonhei    de Luiz Tatit

sábado, 8 de novembro de 2014

CASO DO VESTIDO ( Carlos Drummond de Andrade)

Nossa mãe, o que é aquele
vestido, naquele prego?

Minhas filhas, é o vestido
de uma dona que passou.

Passou quando, nossa mãe?
Era nossa conhecida?

Minhas filhas, boca presa.
Vosso pai evém chegando.

Nossa mãe, dizei depressa
que vestido é esse vestido.

Minhas filhas, mas o corpo
ficou frio e não o veste.

O vestido , nesse prego,
está morto, sossegado.

Nossa mãe, esse vestido
tanta renda, esse segredo!

Minhas filhas, escutai
palavras de minha boca.

Era uma dona de longe.
vosso pai enamorou-se.

E ficou tão transtornado
se perdeu tanto de nós,

Se afastou de toda vida,
se fechou, se devorou,

chorou no prato de carne
bebeu, brigou, me bateu

me deixou com vosso berço,
foi para a dona de longe,

mas a dona não ligou.
Em vão o pai implorou.

Dava apólice , fazenda,
dava carro, dava ouro,

beberia seu sobejo,
lamberia  seu sapato.

Mas a dona nem ligou.
Então vosso pai, irado,

me pediu que lhe pedisse
a essa dona tão perversa,

que tivesse paciência
e fosse dormir com ele...

Nossa mãe, por que chorais?
Nosso lenço vos cedemos.

Minhas filhas, vosso pai
chega ao pátio. Disfarcemos.

Nossa mãe, não escutamos
pisar de pé no degrau.

Minhas filhas, procurei
aquela mulher do demo.

E lhe roguei que aplacasse
de meu marido a vontade.

eu não amo teu marido,
me falou ela se rindo.

Mas posso ficar com ele
se a senhora fizer gosto,

só para lhe satisfazer,
não por mim, não quero homem.

Olhei para o vosso pai,
os olhos dele pediam.

Olhei para a dona ruim,
os olhos dela gozavam.

O seu vestido de renda,
de colo mui devassado,

mais mostrava que escondia
as partes da pecadora.

Eu fiz meu pelo-sinal,
me curvei...disse que sim.

Saí pensando na morte,
mas a morte não chegava.

Andei pelas cinco ruas,
passei ponte, passei rio,

visitei vossos parentes,
não comia, não falava,

tive uma febre terçã,
mas a morte não chegava.

Fiquei fora de perigo,
fiquei de cabeça branca,

perdi meus dentes, meus olhos,
costurei, lavei, fiz doce,

minhas mãos se escalavraram,
meus anéis se dispersaram,

minha corrente de ouro
pagou conta de farmácia.

Vosso pai sumiu nos mundo.
O mundo é grande e pequeno.

Um dia a dona soberba
me apareceu já sem nada,

pobre, desfeita, mofina,
com sua trouxa na mão.

Dona, me disse baixinho,
não te dou vosso marido,

que não sei onde ele anda.
Mas te dou esse vestido.

última peça de luxo
que guardei como lembrança

daquele dia de cobra,
da maior humilhação.

Eu não tinha amor por ele,
ao depois amor pegou.

mas então ele enjoado
confessou que só gostava

de mim como eu era dantes
Me joguei a suas plantas,

fiz toda sorte de dengo,
no chão rocei minha cara,

me puxei pelos cabelos,
me lancei na correnteza,

me cortei de canivete,
me atirei no sumidouro,

bebi fel e gasolina
rezei duzentas novenas,

dona, de nada valeu:
vosso marido sumiu.

Aqui trago a minha roupa
que recorda meu malfeito

de ofender dona casada
pisando no seu orgulho.

Recebei esse vestido
e me dai vosso perdão.

Olhei para a cara dela,
quede os olhos cintilantes?

quede  graça de sorriso,
quede colo de camélia?

quede aquela criaturinha
delgada como jeitosa?

quede pezinhos calçados
com sandálias de cetim?

Olhei muito para ela,
boca não disse palavra.

Peguei o vestido, pus
nesse prego da parede.

Ela se foi de mansinho
e já na ponta de estrada

vosso pai aparecia.
Olhou para mim em silêncio,

mal reparou no vestido
e disse apenas: Mulher,

põe mais um prato na mesa.
Eu fiz, ele se assentou,

comeu, limpou o suor,
era sempre o mesmo homem,

comia meio de lado
e nem estava mais velho.

O barulho da comida
na boca, me acalentava,

me dava uma grande paz,
um sentimento esquisito

de que tudo foi um sonho,
vestido não há...nem nada.

Minhas filhas, eis que ouço
vosso pai subindo a escada.






Carlos Drummond de Andrade ( Antologia Poética)- CASO DO VESTIDO



A música de  Chico César   a "DONA DO DOM"  com Maria Bethania


Duas Mulheres...as duas faces da mesma moeda?

sábado, 1 de novembro de 2014

HISTÓRIA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA Parte V

DÉCADA  DE  30 e a ERA DO RÁDIO :
 A   partir de da década de 30 o samba já havia se  desenvolvido o suficiente e 
compreendia várias modalidades : o samba de roda que é o protótipo do samba
rural dançado ainda com a umbigada, o samba canção que  notabilizou Lupicínio
Rodrigues, o samba choro, o samba de breque cristalizado por Moreira da Silva em
"Na subida do morro", o samba de partido alto com Aniceto do Império, o samba de
terreiro que animava os ensaios da escolas de samba e depois chegaram ao rádio o
samba sincopado com os que imortalizaram Geraldo Pereira, etc..
Os músicos profissionais da classe média que tinham acesso ao disco e ao rádio se
apossaram do samba em suas mais variadas modalidades.  Como já citamos o  famoso
Bando dos Tangarás, reuniam os músicos Almirante, João de Barro (o famoso Braguinha),
Alvinho, Henrique Brito e Noel Rosa.

A história do samba carioca, da mesma forma que o Jazz nos Estados Unidos, conta a 
história da ascensão contínua de um gênero de música popular, de suas raízes populares
e negras para a classe média, constituída na maioria de brancos e mestiços.

Durante  a década de 30, o rádio iria ter vital importância na propagação da música popular
e especialmente do samba.. A transmissão para todo o Brasil de programais musicais do Rio
transformou o período em período de ouro para a música popular e propiciou o aparecimento
de vários ídolos:  Francisco Alves, Vicente Celestino, Mário Reis, Carmem Miranda, Araci
de Almeida, etc...
Em 1937, Orlando  Silva  era chamado de "O cantor das multidões" por levar milhares de
admiradores  em suas apresentações. Os gêneros musicais  se diversificaram.Em l935,
o samba canção ou "Samba do meio de ano" começa a formar o seu estilo, diferenciando-se
do rítmo carnavalesco. O samba canção próprio para ouvir e cantar vinha atender uma exigência
de lazer das massas urbanas que se divertiam com  programas de rádio.
Surge também um gênero híbrido chamada samba- choro , representado pelas composições
"Amor em excesso" (1932) de Gade e "Comigo não" (1934) de Heitor Catumbi.
Em 1936, surgiria o sambe de breque tal como ficaria conhecido a partir de  "Jogo Proibido"
interpretado por Moreira da Silva.
Em 1937, o paulista Raul Torres grava no Rio de Janeiro os mais variados gêneros musicais
e folclóricos de Centro -Sul e Nordeste. Destacava-se o  jongo "Sereno Cai". Aproveita-se
o folclore nordestino e a música rural de São Paulo, Minas Gerais, Paraná. Mato Grosso, etc,
numa verdadeira busca de raízes. Divulgando-se essa música sertaneja nas cidades surgiram
ídolos, como por exemplo, a dupla Alvarenga ( de Taubaté) e Ranchinho (de Jacareí)
NOTA:  Os cantos religiosos dos jesuítas e e as modinhas trazidas pelos portugueses colonizadores
misturaram-se à música e à dança dos nativos e daí surgiram gêneros musicais que se enraízaram 
especialmente  na região sudeste ,no sul e no centro-oeste do Brasil, integrando o que ficou conhecido como música caipira, como as catiras, os cururus, as toadas e as modas de viola.
As primeiras gravações de modas de viola e de outros gêneros  caipiras por violeiros cantadores
do interior paulista podemos citar ,já em 1929, os discos de Cornélio Pires na gravadora Colúmbia.
Na década de 30 vieram os sucessos de João pacífico e Raul Torres, de Alvarenga e Ranchinho e a partir de 40, Tonico e Tinoco.

Bando dos Tangarás (1930)





Carmem Miranda...Camisa listada (1937)
                                   

                                       
 Ai,Yoyô....com Araci Cortes....considerado o primeiro samba canção gravado  (1928?)                                


Continuamos na próxima postagem sobre o tema...


Guaraciaba Perides