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terça-feira, 29 de abril de 2014

SOB O CLARÃO DA LUA

Um pouco de paixão e fantasia
Como se ainda fosse tempo  de
brilhar como um clarão da lua.
Nas pedras do caminho um pouco
de luz...ainda que tardia, brilha
apesar desse jardim estar além
do fim do mundo.
Mas há veredas de perfumes
em flores que circundam
e o chão é um tapete de veludo.
O caminhar é leve
e quase que flutua
e sobretudo ainda existe
o clarão da lua...
Na fonte que murmura
a doce melodia
da água cristalina que borbulha.
O pensamento foge
além do próprio tempo
e apenas num momento
construo meu refúgio
sob o clarão da lua...

Guaraciaba Perides





Para um pouco de paixão e  fantasia  encontrei este vídeo recriando cenários sob o clarão
da lua e música Clair de Lune de Débussy




quinta-feira, 24 de abril de 2014

NAS DOBRAS DO TEMPO

Um bordado colorido
no monograma do lenço
Azul no primeiro nome
Em rosa o mais preferido.
Entrelaçado em flores
e corações flamejantes
o cronograma do lenço
conta uma história de amantes
Aquele lenço de linho
foi esquecido entre tantos
num baú já ressequido...
....................................
Será encontrado um dia
num futuro ainda distante
por uma linda menina...
que será a neta da filha
daquele casal de amantes.
.....................................
E o lenço colorido que traz
monograma em cores,
azul  o do cavalheiro,
em rosa o da dama  antiga,
tem nome que se eterniza,
pois Rosa será o nome
daquela menina linda
que virá a ser no tempo
a neta de sua filha...

Guaraciaba Perides

Para melhor sentir as dobras do tempo o lindo vídeo de um passado  saudoso na valsa  de
Ernesto Nazareth





domingo, 20 de abril de 2014

AMORES NÃO SE VÃO

Os amores não se vão
Ficam no tempo pousados
Em outros rumos
Outros destinos
Mas não perecem
na sua essência
e permanecem
adormecidos
pelos desvãos
da memória.
O amor primeiro
que se revela em plenitude
à própria  alma...
Abre-se em flor
perfuma um tempo
como feitiço de outro plano
de realidade...
E de repente,
fecha-se em lótus
dentro do  peito
e adormece.
Mas, não se vai,
fica pra sempre
como encantado...
........................................
Outros amores
De outros jeitos
Amor de amigo,
de camarada.
Amor de mãe para seu filho,
amor de filho para seu pai.
Amor de irmão,
de namorado...
Se verdadeiros
se multiplicam
e se dividem
em outros tantos...
São como  flores
e vão vicejando
pelos caminhos...
.....................................
Se na vivência  da alegria
ou na saudade
de um outro tempo
Se permanecem
com lindas cores
ou permanecem
como sementes
Latente força do amor
persiste...
na esperança de
um novo tempo,
pois que na alma
o Amor resiste.

Guaraciaba Perides


Caetano Veloso em magnifica interpretação no filme de Almodóvar   "Fale com Ela"



Que os amores permaneçam além do tempo e além das línguas e dos variados jeitos.


domingo, 13 de abril de 2014

UM ANJO CHAMADO MIMI

Alegre e irreverente
Sempre
Ansioso e
inconsequente, nunca.
Pés  no chão,
cabeça nas estrelas...
Por onde pisa
desabrocham flores
nas trilhas do seu caminho.
Música das esferas
que se disfarçam
em Rock-Pop dos mortais.
Balada é com ele mesmo
De roupagem colorida
Sempre de bem  com a vida
Ele que  sabe mais...
Ele que enxerga mais longe
Ele que ama sem dores
Ele que é só coração...
Filho de Deus
servo do mundo
Um anjo chamado Mimi.

Guaraciaba Perides


Achei este vídeo que se aproxima do espírito do poema. O Universo conspirou e trouxe...





terça-feira, 8 de abril de 2014

CANÇÃO DOS CRAVOS

Aonde os cravos da nobreza antiga
dos escudos medievais?
Aonde os cravos das lapelas do barões
e dos castelos ancestrais?
E o que dizer dos cravos das revoluções
em que o sangue do martírio tinge
a flor nos tiros dos canhões?
E na vitória que lançada aos ventos
conduz o brado de vingança e medo...
E quando a paixão torna sem jeito,
o jeito de existir,
ao cravo se revela no poder da dança
que a cigana encanta
e traz  no canto a flor,
que em seu sorriso
se revela amor?
Pintados cravos de todas as cores,
dos varais do povo, de janelas
abertas para o sol...
Dos cravos do fado e da sorte
Aos cravos se revela
o poder da flor...

Guaraciaba Perides  (repostagem de 2010)

Dos tempos em que ainda se sonhava com um mundo melhor...lá estavam os cravos ou a lembrança
deles



quinta-feira, 3 de abril de 2014

VELHO SOBRADO (CORA CORALINA)


Um montão disforme. Taipas e pedras,
abraçadas a grossas aroeiras,
toscamente esquadriadas.
Folhas de janelas.
Pedaços de batentes.
almofadados de portas.
Vidraças estilhaçadas.
Ferragens retorcidas.

Abandono. Silêncio. Desordem.
Ausência, sobretudo.
O avanço  vegetal acoberta o quadro.
Carrapateiras cacheadas.
São-caetano com seu verde planejamento,
pendurado de frutinhas ouro-rosa.
Uma bucha de cordoalha enfolhada,
berrante de flores amarelas
cingindo tudo.
Dá guarda, perfilado, um pé de mamão-macho.
No alto, instala-se, dominadora,
uma jovem gameleira, dona do futuro.
Cortina vulgar de decência urbana
defende a nudez dolorosa das ruínas do sobrado
- um muro.

Fechado. Largado.
O velho sobrado colonial
de cinco sacadas,
de ferro forjado,
cede.

Bem que podia ser conservado,
bem que devia ser retocado,
tão alto, tão nobre-senhorial.
O sobradão dos Vieiras
cai aos pedaços,
abandonado.
Parede hoje. Parede amanhã.
Caliça, telhas e pedras
se amontoando com estrondo.
Famílias alarmadas se mudando.
Assustados - passantes e vizinhos.
Aos poucos, a "fortaleza" desabando.

Quem se lembra?
Quem se esquece?

Padre Vicente José Vieira.
D. Irena Manso Serradourada,
D.Virgínia Vieira
- grande dama de outros tempos.
Flor de distinção e nobreza
na  heráldica cidade.
Benjamim Vieira,
Rodolfo Luz Vieira.
Ludugero,
Angela,
Débora, Maria...
tão distante a gente do sobrado...

Bailes e saraus antigos.
Cortesia, Sociedade goiana.
Senhoras e cavalheiros...
- tão desusados...
O  Passado...

A escadaria de patamares
vai subindo...subindo...
Portas no alto.
À direita. À esquerda.
Se abrindo, familiares

Salas ,antigos canapés.
Cadeiras em ordem.
Pelas paredes forradas de papell,
desenhos de querubins, segurando
cornucópias e laços.
Retratos da antepassados,
solenes, empertigados.
Gente de dantes.

Grandes espelhos de cristal,
emoldurados de veludo negro.
Velhas credências torneadas
sustentando
jarrões pesados.
Antigas flores
de que ninguém mais fala!
Rosa cheirosa de Alexandria.
Sempre-viva. Cravinas.
Damas-entre-verdes.
Jasmim -do-cabo. Resedá.
Um aroma esquecido
- manjerona.

O Passado...

O salão da frente recende a cravo.
Um grupo de gente moça
se reúne ali.
"Clube Literário Goiano"
Rosa  Godinho.
Luzia de Oliveira.
Leodegária de Jesus,
a presidência.

Nós, gente menor,
sentadas, convencidas, formais.
Respondendo à chamada.
Ouvindo atentas a leitura da ata.

Pedindo a palavra.
Levantando idéias geniais.

Encerrada a sessão com seriedade,
passávamos à tertúlia.
O velho harmônio, uma flauta, um bandolim.
Músicas antigas. Recitativos.
Declamavam-se monólogos.
Dialogávamos em rimas e risos.

D.Virgínia. Benjamim.
Rodolfo. Ludugero.
Veros anfitriões.
Sangrias, Doces. Licor de rosa.
Distinção. Agrado.

O Passado...

Homens sem pressa,
talvez cansados,
descem com leva
madeirões pesados,
lavrados por escravos
em rudes simetrias,
do tempo das acutas.
Inclemência.
Caem pedaços na calçada.
Passantes cautelosos
desviam-se com prudência.
que importa a eles o sobrado?

Gente que passa indiferente,
olha de longe,
na dobra das esquinas,
as traves que despencam.
- Que vale para eles o sobrado?

Quem vê nas velhas sacadas
de ferro forjado
as sombras debruçadas?
Quem é que está ouvindo
o clamor, o adeus, o chamado?...
Que importa a marca dos retratos na parede?
e o pudor das alcovas devassadas...
Que importam?

E vão fugindo do sobrado.
aos poucos,
os quadros do  Passado.

CORA CORALINA    (in POEMAS DOS BECOS DE GOIÁS E ESTÓRIAS MAIS)