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sábado, 28 de setembro de 2013

AMSTERDÃ (ideário)*


Percorrendo os campos azuis
que levam ao por do sol...
no claro escuro das telas de Rembrandt
quero sentir o ar de Amsterdã.
Girando em moinhos de vento,
sentir o passado, presente
nas asas do tempo...
Nas praças,  primaveras,
tulipas desfazendo-se em
paisagens de aquarelas.
Museus, esquinas e canais,
ruas escuras, luzes, diques,
barcos, flores, frio e sol...
Nas casas, gente e vidas,
girando saudades em moinhos
ao vento.
Lirismo, fantasia, faz de conta
que  de conta faz...
E por que não, se assim o quer
a alma que habita um coração
e que da infância traz
nos labirintos que percorrem
a emoção...saudade!
Quero visitar Amsterdã


Guaraciaba Perides (2008)

*Quando eu era criança minha mãe me lia histórias de outros países...
Era um livro muito bonito com muitas ilustrações de contos europeus.
Sobre a Holanda, eu fiquei particularmente encantada pois as ilustrações
eram muito bonitas, os moinhos de vento, as flores e o fato de serem terras
abaixo do nível do mar cujas águas eram seguras por diques, o que na verdade
era para mim um mistério a mais,.Depois, as roupas , a touca e os tamanquinhos
das moças holandesas, uma delícia no meu imaginário. Ficou em poesia a minha
saudade da infância.

Passeando por Amsterdã;

I

domingo, 22 de setembro de 2013

O. ELEFANTE (Carlos Drummond de Andrade) e música RODOPIO (Luís Tatit)


Fabrico um elefante
de meus poucos recursos.
Um tanto de madeira
tirado a velhos móveis
talvez  lhe  dê apoio.
E o encho de algodão
de paina, de doçura,
à cola vai fixar
suas orelhas pensas.
A tromba se enovela,
é a parte mais feliz
de sua arquitetura.
Mas há também as presas
dessa matéria pura
que não sei figurar
Tão alva essa riqueza
a espojar-se nos circos
sem perda ou corrupção.
E há por fim os olhos,
onde se deposita
a parte do elefante
mais fluída e permanente,
alheia a toda fraude.

Eis o meu pobre elefante
pronto para sair
à procura de amigos
num mundo enfastiado
que já não crê nos bichos
e duvida das coisas.
Ei-lo, massa imponente
e frágil, que se abana
e move lentamente
a pele costurada
onde há flores de pano
e nuvens, alusões
a um mundo mais poético
onde o amor reagrupa
as formas naturais.

Vai o meu elefante
pela rua povoada,

mas não querem ver
nem mesmo para rir
da cauda que ameaça
deixá-lo ir sozinho.
É todo graça, embora
as pernas não ajudem
e seu ventre balofo
se arrisque a desabar
ao mais leve empurrão.
mostra com elegância
sua mínima vida,
e não há na cidade
alma que se disponha
a recolher em si
desse corpo sensível
a fugitiva imagem,
o passo desastrado
mas faminto e tocante.

Mas faminto de seres
e situações patéticas,
de encontros ao luar
no mais profundo oceano,
sob a raíz das árvores
ou no seio das conchas,
de luzes que não cegam
e brilham através
dos troncos mais espessos.
Esse passo que vai
sem esmagar as plantas
no campo de batalha,
à procura de sítios,
segredos, episódios
não contados em livro,
de que apenas o vento,
as folhas, a formiga
reconhecem o talhe,
mas que os homens ignoram,
pois só ousam mostrar-se
sob a paz das cortinas
à pálpebra cerrada.

E já tarde da noite
volta meu elefante,
mas volta fatigado,
as patas vacilantes
se desmancham no pó.
Ele não encontrou
o de que carecia,
o de que carecemos
eu e meu elefante,
em que amo disfarçar-me.
Exausto de pesquisa,
caiu-lhe o vasto engenho
como simples papel.
A cola se dissolve
e todo o seu conteúdo
de perdão, de carícia,
de pluma, de algodão,
jorra sobre o tapete,
qual mito desmontado
Amanhã recomeço.


 
 
 
 
 
 
 
in ANTOLOGIA POÉTICA   de CARLOS DRUMMOND  DE ANDRADE
Música   RODOPIO  de Luís Tatit  cantando com Ná Ozzetti

domingo, 15 de setembro de 2013

TEMPO DE ESTIO

Tempo de estio
Sono e silêncio
Preguiça no ar
Sol, esfera cintilante,
Nuvens que carregam
Chuva de verão...
Enxurradas nas calçadas
Tudo em demasia
Raios e trovões
Manhãs de claridade,
tardes modorrentas,
noites suarentas...
Muriçocas, pernilongos,
cigarras cantantes
dão o tom...
Tempo de estio,
suor e cerveja,
luz e calor.
Ao sol do meio dia
folhas ressequidas
que suplicam água e
que de repente
cai aos borbotões....
rios que transbordam
carregando terra,troncos
e florestas
buscam o silêncio do mar...
Tudo em demasia
Tempo de estio.

Guaraciaba  Perides (2002)


Tempo das  Águas....Música de Bilora    (do Vale do Jequitinhonha o sabor do Brasil)


domingo, 8 de setembro de 2013

SÃO FLORES NA MEMÓRIA...

Pequeninas flores
vicejam no campo
de minha memória...
Entre elas, aquelas
que a brisa desmancha
espalhando ao léu
as suas sementes...
E novas florinhas
em outros campos
se abrem ao tempo
de novas histórias...
Os anos passam e brotam
flores, fazendo arranjos
de outros amores
que vão ao léu, fazendo
um pouco de nossa vida,
compondo muito de
uma lembrança
que tão querida,
tece a saudade
com fios do tempo...
Como as florinhas
que se desmancham
ao sabor do vento e
espalham no ar
as suas sementes...

Guaraciaba Perides    (2011)

domingo, 1 de setembro de 2013

A Z U L

O azul é um sonho materializado
O azul é uma promessa já cumprida
O azul é um campo de linho feito em flor
E de repente... o azul é ...apenas cor.
O que foi feito do azul?
O que foi feito do sonho e da promessa?
E do campo de linho...ainda existe?
E quando o  azul deixou de ser azul?
Foi o tempo que passou,(?)
O coração que envelheceu(?)
A alma que cansou (?)
Será que foi você...ou afinal fui eu?

Guaraciaba Perides (2007)