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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Tecendo a manhã (João Cabral de Melo Neto)

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos

que muitos com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre  todos os galos

E se  encorpando em tela, entre  todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendo para todos no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.


João Cabral de  Melo Neto

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