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sábado, 4 de junho de 2011

Poema dos olhos da Amada (Vinicius de Moraes)

Ó minha amada
Que olhos os teus
são cais noturnos
Cheios de adeus
São docas mansas
Trilhando luzes
Que brilham longe
Longe nos breus...

Ó minha amada
Que olhos os teus
Quanto mistério
Nos olhos teus
Quantos saveiros
Quantos navios
Quantos naufrágios
Nosolhos teus...

Ó minha amada
Que olhos os teus
Se Deus houvera
Fizera-os Deus
Pois não os fizera
Quem não soubera
Que há muitas eras
Nos olhos teus.

Ah, minha amada
De olhos ateus
Cria a esperança
Nos olhos meus
De verem um dia
O olhar mendigo
D a poesia
Nos olhos teus.

                      Rio, l950


Vinícius de Moraes (in Antologia Poética)