Amigos

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Seus beijos de mar (canção)

Quero o luar em teus cabelos
E a brisa mansa em teu olhar
Ou se me engano quero
a brisa em teus cabelos
e em teus olhos o luar.
E sempre assim só a beleza
de um amor de paz...
Pelas areias do tempo
Em beijos de mar adentro
Não quero amor de tristeza
Só penso em te velejar
Com as velas abertas, sem cais e sem rumo
na vida e pra sempre
seus beijos de mar...

guaraciaba (2003)

No Álbum de Retratos

No álbum de retratos
meus pais ainda jovens
desfilam gloriosos
pelas páginas centrais.
E eu,ainda bem criança
abro meus espantados olhos para a vida;
E ali, em sestros calculados,
coberta de colares e miçangas,
repito sem saber porquê
os gestos de Carmem Miranda...
No album de retratos
parentes antigos e amigos imemoriais
permanecem estáticos como aprisionados
em um caleidoscópio gigante
e ali se perpetuam em sorrisos calculados
em olhares no infinito de outros tempos...
Na sequencia da corrente humana,
nas feições que se repetem,
nos perfis que se assemelham,
o sorriso de uma avó distante
reaparece na feição de alguma filha...
De repente,uma prima meio que esquecida
ressurge e faz lembrar sua presença
na foto ressequida.
Chapéus,lenços, fantasias e gravatas,
festas, reuniões,momentos de ilusão,
no olho mágico,se registra,no retrato
e em tudo permanece um pouco da paixão.
Aqui um jovem recebe seu diploma,
mais além, se registra um casamento,
de repente surge um batizado,
depois alguém carrega o neto amado...
E assim se passa a vida registrando a vida,
no álbum de retratos...

guaraciaba (2001)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

A vila Samambaia

Horas mortas.Descansa a vila.
Brilh a lua cheia,como sempre brilha...
Ao longe uma toada mineira,
alguem toca ao violão;
cachorros latem em dó maior.
Jovens voltam do baile em breve alarido
que logo se perde na escuridão.
E o domingo termina em paz...
.....................................................
Madrugada, enxadas aos ombros,
passam os obreiros dos campos,
e o aroma do café ocupa o espaço
no início de um novo tempo.
Crescem os ruídos nas calçadas,
portas que se abrem e se escancaram,
janelas coloridas abertas ao sol,
que ainda pálido galga a montanha
com ar de espanto;
récem-nascido dia,com sua cara
de infância...
O inconfundível cheiro de lenha
queimando no fogão que teima em existir,
traz à vila a lembrança do passado
que perpetua na memória
um tempo quase findo.
Contrariando "Pessoa" o dia não deu em chuvoso.
O capim umidecido de sereno
brilha em gotas de cristal...
Um cavalo relincha.
Passa o leiteiro com a carroça e seus latões de leite
e a cachorrada faz a festa atiçando o cavalo...
Agora é lida! Até a brasa do meio dia
Os sons da terra e os sons da gente,
risos,cantos,choros,gritos
latidos,cigarras, pássaros,
buzinas, pregões,motores...
Os cheiros: flores,bosta de cavalo,
carne assada,café,sempre o café,
bolo e pão quente,perfumes adocicados
e a fumaça da lenha...cheiro de roça
....................................................................
Fim de tarde!
Passam os obreiros dos campos,enxadas
aos ombros;
Nuvens rosadas e douradas em fundo azul
acolhem o guerreiro da eterna vida que
já se recolhe no horizonte...
as janelas ainda abertas acolhem as primeiras estrelas
Daqui a pouco, a noite desce de azul completamente.
Cessam os ruídos da rotina humana.
A vila adormece ao som da toada mineira
que o mesmo ou outro alguém toca plangente
ao violão...
Descansa a vila.


guaraciaba(2004)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Maria e João

Maria de cachos morenos
João de olhos azuis
Maria de longos cabelos
João de sardas ao sol
Maria de tantos arroubos
João de tímido gesto
Maria que sonhava amar
João que sonhava com o mar
Maria de flor na janela
João de longa distância
Maria de casa e aconchego
João de ondas gigantes
Maria de doce sossego
João de só solidão...
Maria e João,tão longe,
Nas praias do tempo perdidos...
Sonham João e Maria,
seus tempos de juventude
em que se tramam caminhos,
estradas do vir a ser,
ela de cachos morenos,
êle um lobo do mar,
ela pra sempre na terra.
êle em caminhos do mar...
Crianças buscando seus sonhos
em que procuram viver,
na esperança, em tempo vago
de alegria,de um menino com seu barco,
uma menina e sua trança,
duas vidas, dois desejos
e uma única lembrança...

guaraciaba (2006)

terça-feira, 25 de maio de 2010

A moeda verdadeira

A moeda verdadeira
aquela que rola
aquela que gira
que tem cara e coroa
que tem verso e reverso
que tem lastro e tem valor...
A moeda verdadeira
não sofre ágio, nem oscila
não perde nunca no tempo
o poder da esperança
e nem tem saldo devedor...
A moeda verdadeira
faz da vida companheira,
todo mundo que conhece
sabe o seu real valor
pois, com ela se merece
tudo o que jamais se esquece,
é a moeda do Amor.


guaraciaba (2008)
letra para um samba

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Apenas foi assim...

Um canto de sereia
Um talismã,de pedras preciosas
meu amor,
cometa radiante,
estrela cadente
foi o tempo que durou.
Apenas foi assim,
o seu amor por mim.
Sem tempo,nem hora
só ouro de tolo que restou...
Um doce de coco,
amor em pedaços,
iguarias finas,meu amor,
sedas e perfumes,lençóis de cetim,
e entre tantos beijos
não restou desejo que não teve fim.
Apenas foi assim...
Chuva repentina de raios e trovões,
rios transbordantes de paixão,
mas rapidamente já passou
e na mesma hora,quase sem querer,
eis que o sol raiou.
Apenas foi assim...

guaraciaba (2006) -letra para uma canção

quinta-feira, 20 de maio de 2010

O TEMPO DE ALICE

Alice tinha olhos castanhos
Cabelos em ondas,
Trajava-se em rendas
e tocava piano.
A noite em sua varanda
sonhava seu príncipe.., à luz de uma lua cheia..
..............................................................................
Alice tinha olhos castanhos
Cabelos em pega-rapaz,
de seda franjada,de joelhos torneados,
amava as noites de Bandas de Jazz.
E de sua longa piteira....sonhos evolavam pelo ar...
............................................................................
Alice tinha olhos castanhos
Cabelos que em ondas lembravam o mar,
com sonhos de liberdade,
acreditava na igualdade entre o homem e a mulher.
E enquanto curtia a natureza,parto natural e outros que tais,
ia cantando com beleza um hino ao por do sol...
..........................................................................
Alice tem olhos castanhos
e o cabelo da cor do seu desejo.
Veste roupa de couro se assim o quizer,
tira o som de sua guitarra
que lhe faz a emoção transbordar...
E para ela a liberdade é um mito
e no fundo ela quer apenas amar
Como sonhavam as Alices de todas as Eras,
Alice menina,Alice mulher...

guaraciaba(2006)

quarta-feira, 19 de maio de 2010

DIFICULDADE DE GOVERNAR

Todos os dias os ministros dizem ao povo
Como é difícil governar
Sem os ministros
o trigo cresceria para baixo em vez de
crescer para cima.
Nem um pedaço de carvão saíria das minas

Se o chanceler não fosse tão inteligente.
Sem o ministro da Propaganda
Mais nenhuma mulher poderia ficar grávida.

É também difícil,ao que nos é dito,
Dirigir uma fábrica.
Sem o patrão
As paredes cairiam e as máquinas
encher-se-iam de ferrugem.

Se governar fosse fácil
Não haveria necessidade de espíritos
tão esclarecidos como o do Fuhrer.
Se o operário soubesse usar a sua máquina
E se o camponês soubesse distinguir um campo
de uma forma para tortas
Não haveria necessidade de
patrões nem de proprietários.
É só porque toda a gente é tão estúpida
É que há necessidade de alguns tão inteligentes.

Ou será que
Governar só é assim tão difícil
porque a exploração e a mentira
São coisas que se custam a aprender?

BRECHT

terça-feira, 18 de maio de 2010

Sobre a rosa disse Cecília Meireles:

Não te aflijas
com a pétala que voa:
também é ser,
deixar de ser assim...
Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe,o vento vai falando de mim.
E por perder-me
é que me vão lembrando
por desfolhar-me
é que não tenho fim.

Casualmente, um pirata...

Casualmente, um pirata,
de tapa-olho e um olho verde
sorriso branco como convém,
veio dançando a polca russa
no meio do salão
como ninguém.
Poeta casual no carnaval...
O olho verde como farol
dizia a todos; - Eu sou alguém
mas, o sorriso meio que sonso
dizia apenas, não se iludam,
eu sou pirata de Carnaval!
Mas como na festa todos se agitam
e sonham ser o que a alma quer,
esse pirata,tão verdadeiro,
tornou-se logo, a sensação
do Carnaval...
E a meninas,nem tão meninas,
nem Florisbelas,nem bailarinas,
nem marinheiros e colombinas
dançaram a festa com tanta graça,
como o pirata de tapa-olho e de
olho verde como farol,
em fantasia tão verdadeira
foi realmente o que dizia;
Sou um pirata...no Carnaval!

guaraciaba(2010)

domingo, 16 de maio de 2010

Flor da campina (canção)

Flor da campina,
desfolhada ao vento,
coloridos modos
fazem festa à luz do firmamento...
ouço o cantar das moças no recreio
seu riso em sinos de ouro
que tilintam graça...
De puro enlevo a natureza fala
através das pétalas macias
e às belas jovens envia a profecia do seu bem querer...
Que não seja mal o que se espera
e o coração apaixonado
possa ter agora,
a certeza efêmera e sincera
das pétalas macias
desfolhadas ao vento...
bem-me-quer...mal-me-quer,bem-me -quer...

guaraciaba (2004)

Análise (um clássico de Fernando Pessoa)

Tão abstrata é a idéia do teu ser
Que me vem de te olhar,que, ao entreter
Os meus olhos nos teus,perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a idéia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és,que, só por ter-me
Consciente de ti,nem a mim sinto.
E assim,neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo,nem vendo,nem sabendo
Que te vejo,ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.

(escrito por Fernando Pessoa em dezembro de 1911)

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Quantas rosas (canção)

Fosse o poeta de tempos de outrora
seriam rosas singelas donzelas.
Fosse o poeta de gostos noturnos
seriam rosas mulheres do mundo.
Fosse o poeta gentil cavalheiro
Seria delas fiel escudeiro.
Fosse o poeta ainda menino
veria nelas seu doce mistério.
E assim se fazendo de rosas
mulheres são todas de encanto e magia,
paixão do poeta que nelas encontra
a razão de viver e delas se inebria...
Quantos poetas,quantas rosas, quantas!

guaraciaba (2003)

Maio

Maio das flores de outono
Maio do céu bem azul
Maio,Senhora das Graças
dos anjos em procissão.
Maio das rosas e do frio
e de capelas ornadas,
de cantos e de orações...
Maio de muitas lembranças
de doces sonhos da infância,
da inocência e da alegria
de vida que em memória
de outro tempo desta história...
Maio,menina de outrora,
maio,menina de tranças
maio de anjos de azul,
trazendo estrelas nos olhos
brilhos nas noites do sul...

guaraciaba (maio de 2009)

lembrança das festas do mês de maio quando a procissão em homenagem à Nossa Senhora encantava a todos pela beleza e pela graça das crianças vestidas de anjos.Esta lembrança é uma das mais gratificantes pela inocência e espírito religioso que as famílias faziam questão de manter.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Na minha juventude romântica um dos meus poetas preferidos-Vinícius de Moraes.Um dos poemas mais belos e lindamente musicado:
Poema dos olhos da amada

Ó minha amada
Que olhos os teus
São cais noturnos
cheios de adeus
São docas mansas
trilhando luzes
Que brilham longe
Longe nos breus...

Ó minha amada
Que olhos os teus
Quanto mistério
Nos olhos teus
Quantos saveiros
Quantos navios
Quantos naufrágios
Nos olhos teus...

Ó minha amada
Que olhos os teus
Se Deus houvera
Fizera-os Deus
Pois não os fizera
Quem não soubera
Que há muitas eras
Nos olhos teus.

Ah, minha amada
De olhos ateus
Cria a esperança
Nos olhos meus
De verem um dia
O olhar mendigo
Da poesia
Nos olhos teus.

Rio, 1950

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Palácio de cristal

Sutil e frágil coração
Palácio de cristal.
Reflexos fulgores
de luz multiplicada
nas faces lapidadas.
Dá-me a paz de seu cristal
Dá-me a luz de seu fulgor
Da´-me a beleza de sua transparência...
Mas,não me quebre a alma!
O excesso de seu brilho
requer alma mais dura
do que este frágil palácio de cristal!

guaraciaba (2001)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Segredo

Há portas que não devem ser abertas
Há cofres que devem ser trancados
Há caixas que precisam do mistério
Há sonhos que melhor, guardados.
Aquieta o coração no seu segredo
e o pensamento por si só ,ficando oculto,
deixe que apenas à superfície se revele
o que pode partilhar o mundo.

guaraciaba (2008)

As vezes lembro...

As vezes lembro...
Era setembro em flor de primavera
O azul prevalecia e em tudo havia
O grande amor da vida por você.
As vezes lembro,
o coração batia e quando o olhar cruzava
e como a gente amava e como se queria...
Aí me lembro,
era primavera,na vida e na estação!
E como tudo passa,
passou a primavera
e nela a flor do tempo que desabrochou,
mas mesmo aquela flor, que não existe mais,
na essência do perfume,pra sempre ela ficou...

Guaraciaba (2005)

Boneca de pano

Boneca de pano
de olhos de retrós
boquinha de batom
e coração de avó

Boneca preferida
entre outras tantas,
frágeis,delicadas
de tão lindas tranças

Mas não tinham vida
como tinha aquela
feita de pano e retrós

Que tinha jeito de gente
de cara simples e singela
E coração de Avó...

guaraciaba (2006) -singela homenagem à minha avó Faustina que me fazia boneca de pano improvisada com batom,linha e lápis crayon

terça-feira, 4 de maio de 2010

A noite dos alquimistas é um poema canção composto por Fausto Bordallo compositor português de grande importância em seu país e que deveria ser melhor conhecido...pode-se dizer que é do nível dos nossos grandes compositores,pois possuí um trabalho de pesquisa bastante intenso e de nivel altíssimo da história e da alma de Portugal.Este poema canção foi gravado em 1985 e segundo consta tem a ver com a "revolução dos cravos" ocorrida em Portugal em l974,mas não sei se a informação procede porque ele admite muitas leituras além do caráter político.

A noite dos alquimistas

Chegam os magos no claro rasto da lua cheia
descem duendes pelos caminhos da Cassiopéia
gnomos e bruxos,gênios e divas,tudo e ninguém
abeiram-se os sábios,os feiticeiros que o mundo tem
sentem-se amenas mágicas formas sombras de alguém

Vêm do fundo da paz da terra, os sonhadores
guardam em sonhos ocultas memórias,os computadores
pedreiros livres,santos e artistas,tudo e ninguém
sussurram secretas vozes profetas dos temporais
pairam nos ventos estranhos seres com cristais

Ó roda viva,ó astro grande de almas gentis
fonte das musas,covil dos homens mais varonis
A gente luta, a gente sofre tudo e ninguém
redime as dores,nossos amores,ódios também
somos teus filhos, ó mar de estrelas cuide-nos bem.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Quem sou?

Não sei quem sou,
mas sei que sou.
Travestida de mil jeitos pela vida a fora...
Um ser mutante na aparência
mas um ser que permanece em sua essência.
As vezes alegre,as vezes triste,
as vezes lúcida,as vezes louca...
Já fui menina de outras eras,
já fui a moça de muitos sonhos,
eu sou aquela que não se sabe
e de repente como se encontra,
para em seguida perder o prumo
e achar que a vida em si se basta...
mas que o caminho é uma procura
de um tesouro que não se acha...

guaraciaba (2006)

Desce a noite (canção)

Piscam,piscam vagalumes sob a noite escura
coaxando sapos nas charnecas
grilos perfurando do silêncio o breu,
adormece a mata...
águas vão rolando seixos na ribeira,
peixes se aquietam junto à areia branca
aves que noturnas grasnam atravessando o espaço,
estrela cadente anunciando um sonho
sob um céu de estrelas
toda a noite desce...
E se houver festa de lua,
prateada luz banhando a mata densa,
seres da floresta dançam seus folguedos
murmurando prece a Deus,cantando seus segredos,
na beleza que perpassa a mata
quando a noite desce...

guaraciaba( 2008)